No clássico filme Footloose, de 1984, Ren McCormack (Kevin Bacon no começo da carreira) volta à sua cidade natal, a pequena Bermont, em Utah, e descobre que o prefeito local proibiu a dança e o rock no município. Ren e seus amigos decidem, então, desafiar o regulamento e trazer a dança de volta ao local. Será que as escolas de Pernambuco terão sua própria versão de Footloose?
Um projeto de lei da deputada Clarissa Tércio (PSC) propõe proibir nas escolas públicas “a realização de danças em eventos e manifestações culturais cujas coreografias sejam obscenas, pornográficas, ou exponham as crianças e adolescentes à erotização precoce”. A PL 494/2019 está em tramitação, e se aplica “a qualquer modalidade de dança, inclusive manifestações culturais pernambucanas”, o que inclui o popular “passinho”, que tomou conta dos jovens nos últimos anos.
“Não somos contra que essa dança. Mas que ela seja dançada fora da sala de aula. Quem quiser que dance na casa, na rua ou em qualquer outro ambiente. Estamos tratando do ambiente escolar, que deve ser respeitado”, explica a deputada, que faz parte da bancada evangélica da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). Segundo ela, a reclamação partiu dos pais. “Temos um canal de denúncia e ali recebemos muitas reclamações e vídeos com crianças e pré-adolescentes com roupas impróprias, em apresentações até com apoio de professores e gestores. Os pais disseram isso não pode continuar”, afirma Clarissa Tércio.
Para quem tem o passinho como meio de sobrevivência, a proposta pode significar um retrocesso na batalha pelo reconhecimento. “Estamos lutando desde o começo pra que o passinho se tornasse cultura aqui em Pernambuco”, lembra o dançarino Arthur Borges, “já vi crianças e jovens que estavam na rua, expostas às drogas, largarem esse ambiente por causa do passinho. Hoje em dia ganha uma renda que ajuda dentro de casa”, completa.