Irmã Dulce é canonizada pelo papa e se torna a primeira santa brasileira

Além da baiana, outros quatro beatos foram canonizados neste domingo, na praça São Pedro

Por Lucas Ferraz e Michele Oliveira | Folha

0
719
Irmã Dulce - Acervo Irmã Dulce
Irmã Dulce - Acervo Irmã Dulce

CIDADE DO VATICANO

A baiana Irmã Dulce foi canonizada neste domingo (13), em cerimônia chefiada pelo papa Francisco, no Vaticano, após ter dois milagres reconhecidos pela Igreja Católica. Ela é a primeira santa brasileira.

A cerimônia acontece na praça São Pedro, em frente à basílica de mesmo nome, diante de autoridades e fiéis. 

Iniciada às 5h10 (horário de Brasília), a missa teve uma liturgia específica para canonizações. Logo após cantos iniciais e a saudação do papa, o cardeal Angelo Becciu, prefeito da Congregação das Causas dos Santos, fez o pedido formal ao papa para que cincos beatos sejam considerados santos.

 Irmã Dulce
Irmã Dulce – Acervo Irmã Dulce

Além de Irmã Dulce (1914-1992), foram canonizados: o britânico John Henry Newman (1801-1890), a italiana Giuseppina Vannini (1859 -1911), a indiana Mariam Thresia Chiramel Mankidiyan (1876 -1926) e a suíça Marguerite Bays (1876 -1926). 

Em seguida, o cardeal Becciu leu uma breve biografia de cada beato. Após cantos, o pontífice então os declara santos. Por ordem, o nome da Irmã Dulce foi quarto mencionado pelo papa. Ela passa a ser chamada como Santa Dulce dos Pobres.

No altar, armado à frente da basílica de São Pedro, estão relíquias dos novos santos. 

O público começou a formar fila logo às 6h da manhã (horário local), cerca de quatro horas antes da cerimônia. Os portões de controle com detector de metais foram abertos às 7h15 (também no horário local).

Enquanto esperavam o início da missa, os grupos de brasileiros entoavam cantos em homenagem à religiosa baiana e agitavam bandeiras verde-amarelas.

Grupo de Salvador que chegou a fila do Vaticano às 6h da manhã. A médica Marília Sentges (segunda da direta para esquerda) teve sua carteira de trabalho assinada por Irmã Dulce. – Foto: Michele Oliveira / Folhapress

Entre os presentes na cerimônia, além de arcebispos, bispos e cardeais, participam os postuladores dos cinco santos (os responsáveis pelo processo de canonização junto ao Vaticano) e autoridades. 

O Brasil é representado oficialmente pelo vice-presidente Hamilton Mourão —o presidente Jair Bolsonaro alegou problemas de agenda para não viajar a Roma. 

comitiva oficial conta com um total de 14 pessoas, incluindo os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, o procurador-geral da República, Augusto Aras, além do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM). 

O ex-presidente José Sarney, um dos políticos mais próximos de Irmã Dulce, também assiste à cerimônia.

Há ainda, em outros pontos da praça de São Pedro, dezenas de outras autoridades brasileiras que viajaram à Itália para acompanhar o evento, como o governador da Bahia, Rui Costa (PT), senadores, deputados federais, estaduais e seus respectivos acompanhantes.

O presidente da Itália, Sergio Mattarella, representa o país, enquanto o Reino Unido enviou como representante o príncipe Charles. 

O processo de canonização da baiana foi o terceiro mais rápido da história da Igreja Católica (27 anos após sua morte), atrás apenas do papa João Paulo 2º (1920-2005) e de Madre Teresa de Calcutá (1910-1997), cujo trabalho social foi comparado ao de Irmã Dulce nos últimos dias. 

Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes, nome de batismo de Irmã Dulce, teve dois milagres reconhecidos pelo Igreja Católica.

Em 2011, anunciou-se a beatificação da freira com o reconhecimento do primeiro milagre. O caso aconteceu em 2001, em Sergipe, quando as orações a Irmã Dulce teriam feito cessar uma hemorragia em Claudia Cristina dos Santos, que padeceu durante 18 horas após dar à luz o seu segundo filho.

Neste ano, foi reconhecido o segundo milagre: depois de 14 anos convivendo com uma cegueira causada por um glaucoma, o maestro José Maurício Moreira recuperou a visão em 2014. Ele é um dos presentes na cerimônia que acontece na praça de São Pedro.

Nascida em Salvador, Irmã Dulce, que ficou conhecida como “anjo bom da Bahia”, teve uma trajetória de fé e obstinação na qual enfrentou as rígidas regras de enclausuramento da igreja para prestar assistência a comunidades pobres da cidade, trabalho que realizou até a morte.

Ela ingressou na vida religiosa como noviça na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição, em São Cristóvão (SE).

Em Salvador, passou a se dedicar a ações sociais. Em 1959, ocupou um galinheiro ao lado do Convento Santo Antônio e improvisou uma enfermaria para cuidar de doentes. Foi o embrião das Obras Sociais Irmã Dulce, que atualmente atende uma média de 3,5 milhões de pessoas por ano.

QUEM FOI IRMÃ DULCE

Biografia
Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes, conhecida como Irmã Dulce, nasceu em 1914, em Salvador. Responsável por construir uma das maiores obras de assistência social gratuita do país, a freira era chamada de “anjo bom da Bahia”. Morreu em 1992, aos 77 anos

Milagres
Irmã Dulce teve dois milagres reconhecidos pelo Vaticano. Em 2001, as orações em seu nome teriam feito cessar uma hemorragia de uma mulher de Sergipe que padeceu durante 18 horas após dar à luz o seu segundo filho. Em 2014, o maestro baiano Jose Maurício Moreira voltou a enxergar após 14 anos de cegueira

Canonização
No domingo (13), a freira será canonizada pelo papa Francisco, em cerimônia realizada no Vaticano. Com isso, se tornará Santa Dulce dos Pobres, a primeira mulher brasileira a ser declarada santa pela Igreja Católica

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor, digite seu comentário!
Por favor entre com seu nome aqui