Leonardo Neiva | Folha
O nome de Neymar foi o termo mais buscado no YouTube do Brasil durante a primeira semana de junho, depois que o jogador divulgou vídeo em que tentava se defender de uma acusação de estupro. Entre as pessoas que integraram essa estatística, é provável que grande parte tenha topado, em algum momento, com o vídeo “Conversa do Ney”, postado menos de 24 horas depois do ocorrido.
Quem teve curiosidade de clicar no link escutou, em meio à batida do funk, a voz de MC Maha entoando trechos semelhantes ao diálogo em que o atleta e Najila, a suposta vítima do estupro, se conheceram. Com um detalhe: a música era muito mais ousada sexualmente do que a conversa original.
Na internet, casos como esse são cada vez mais comuns. A produção veloz acompanha uma tendência recente de transformar notícias e memes em temas de funks, axés e pagodes, alcançando sucesso entre um público cada vez mais ávido por versões musicais da polêmica da vez.
“No dia em que aconteceu, o pessoal já começou a pedir para eu fazer uma música. Então escrevi rápido a letra”, conta Maha.
Os fãs do MC já estavam acostumados com sua versatilidade para transformar temas conhecidos em funks. Ele virou hit na internet em 2017 quando compôs a música “Harry Porra e a Bruxinha Rabuda”, funk no qual a vara que a bruxa do título procura não é a mágica.
Após lançar dezenas de faixas no mesmo estilo, que variam de “Senhor dos Anais” a “Pika no Chu”, o cantor enxergou uma oportunidade de inovar graças à viralização do vídeo da jovem investidora Bettina, que dizia ter ganhado mais de R$ 1 milhão aplicando em ações.
“Eu estava muito limitado ao público geek e otaku. Quando lancei o ‘Funk da Bettina’, comecei a vender shows de novo. Tema que está estourando vende bem, por isso recriei meu Twitter e hoje fico de olho nas notícias. Procuro sempre um assunto que possa juntar com funk e sexo”, explicou.
Agilidade para publicar é um fator essencial. No mesmo dia em que foi postado, o funk “Conversa do Ney” alcançou mais de 100 mil visualizações. “Quando o assunto está forte, sobe na hora. A gente surfa no hype mesmo.”
Depois de sofrer uma série de críticas e virar meme, a versão brasileira da música “Shallow”, de Paula Fernandes e lançada em maio com o título “Juntos”, foi outra que ganhou tratamento especial. Neste caso, pelas mãos da banda baiana La Furia.
Assim como no sertanejo, a versão mistura inglês e português no refrão, com as palavras estrangeiras ganhando significado bem diferente da tradução habitual. “Desafio do Shallow Now/ Você vai sentar no grau/ Senta no shallow now/ Quica no shallow now.”
Segundo o vocalista Bruno Magnata, o principal termômetro da banda para cantar sobre determinado tema são os pedidos do público em redes sociais. Depois que se detecta o interesse, o ideal é gravar o mais rápido possível.
“No caso de ‘Shallow Now’, a gente tinha acabado de chegar da Paraíba e nem passou em casa, foi direto para o estúdio. Costumamos fazer primeiro um vídeo, que colocamos no stories do Instagram, e a música se espalha para o país inteiro”, conta.
A La Furia foi também uma das responsáveis pela música “Fábio Assunção”, hit no Carnaval 2019, gravada ao lado do cantor e youtuber Gabriel Bartz, que compôs a letra. A canção gerou polêmica por fazer piada com a dependência química do ator.
Após o lançamento, os artistas foram procurados por Assunção, encontro que resultou em um acordo entre as partes —toda a renda dos direitos autorais na internet passou a ser revertida para entidadesque atuam no tratamento de dependentes químicos.
Bartz conta que a música nasceu de uma brincadeira entre amigos e não havia intenção de ofender. “No final acabou sendo benéfico. Do mesmo jeito que fiz uma brincadeira que deixou algumas pessoas tristes, muita gente aprendeu sobre o assunto, principalmente eu.”
Por tratarem de temas polêmicos, críticas e reações negativas são quase inerentes a muitas dessas produções. Maha conta que chegou a pensar em não gravar o funk sobre Neymar, temendo o avanço da denúncia de estupro contra o jogador. “Decidi fazer do jeito mais tranquilo possível, sem entrar na polêmica”, diz o MC.
O sucesso de canções que replicam notícias e memes reflete o culto à novidade que existe na sociedade atual, afirma Rosilene Moraes, professora de cultura e sociedade do consumo da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing). Essa realidade faz com que as características pejorativas ou ofensivas do humor típico da internet se reproduzam nas canções.
“A música é viva, orgânica, sempre traz para o centro o que está muito latente numa determinada época”, diz Moraes.
Esse imediatismo faz com que uma música que alcança grande sucesso nos primeiros dias tenha pouca vida útil após o fim da polêmica em que se baseia. Foi o que Maha observou em seus esforços recentes, que ajudaram a atrair seguidores para seu canal, mas foram rapidamente esquecidos pelo público.
Para Magnata, da La Furia, um possível antídoto contra o esquecimento do público é deixar de fora detalhes e nomes dos envolvidos nos casos. “A gente busca colocar uma cara mais nossa, cara da Bahia, para durar mais. Mas elas passam mais rápido do que músicas normais”, acredita.
Apesar da brevidade, o vocalista pretende continuar investindo no estilo que, segundo ele, já virou marca da banda. Por enquanto, prefere comemorar o sucesso de “Oi, Fake”, versão musical também sobre o caso de Neymar.
“Se aparecer outra coisa, a gente vai fazer música também.”
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