O Dia do Trabalhador este ano será diferente, no Brasil, devido à pandemia. O mote é a reflexão sobre o futuro do mercado interno de trabalho. Centrais sindicais e especialistas, sempre em polos opostos, são unânimes na análise de que o que vai acontecer após a crise dependerá do desenho a ser feito nas relações entre patrões e empregados, e dos resultados das medidas governamentais para o enfrentamento dos impactos causados pelo coronavírus.
Marcelo Neri, economista da Fundação Getulio Vargas, destaca que a conjuntura exige revisão de conceitos. Ele assinala que o país descobriu que os “invisíveis”, que nem sequer estão em programas sociais, são em maior quantidade do que se pensava.
“O Brasil descuidou desse pessoal. Falta um cadastro confiável. Há outro item que também não foi bem avaliado. A população está envelhecendo, não temos pessoal qualificado e corremos o risco de falta de mão de obra. Temos que insistir na qualificação e nos investimentos em educação, reconstrução dos pequenos negócios e acesso ao crédito”, aposta Neri.
O economista Helio Zylberstajn, da Universidade de São Paulo, assinala que no 1º de Maio deve-se “aproveitar para pensar no que vai ser o mercado de trabalho”. No curto prazo, as iniciativas devem ser no sentido de reduzir os impactos da pandemia. E elogia as medidas do governo.
“Foram feitos cerca de 4 mil acordos individuais, o que representa mais de 10% de todos os empregos com carteira assinada (38 milhões)”, comemora.
As centrais sindicais prometem um live histórica, hoje, com início às 11h30, que poderá ser acessada e compartilhada nas páginas no Facebook e pelo YouTube. O 1º de Maio Solidário foi organizado por CUT, Força Sindical, UGT, CTB, CSB, CGTB, Nova Central, Intersindical e Publica, com o apoio dos movimentos sociais. Homenageará trabalhadores em serviços essenciais e lançará a nova etapa da campanha para arrecadação de donativos à população vulnerável.
“Mais do que nunca, em 2020 o 1º de Maio evoca a memória da luta por melhores condições de vida e de trabalho”, reforça a juíza Noêmia Porto, presidente da Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho (Anamatra). Após a pandemia, segundo ela, ficará para as reflexões sobre esse período o erro do pensamento de senso comum em torno da lógica de que haveria uma oposição simples a ser equacionada: ou direitos trabalhistas ou crescimento econômico.