No início da semana o mundo se deparou com a confirmação do primeiro caso do mundo de reinfecção pelo coronavírus, registrados em Hong Kong. A partir da informação, começaram a surgir notícias de situações semelhantes na Holanda, Bélgica, Estados Unidos e até no Brasil. A possibilidade que um paciente fosse contaminado mais de uma vez não era descartada pela comunidade científica, mas a oficialização de casos coloca pesquisadores em alerta e tem potencial para definir rumos de futuras pesquisas.
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O tema é um dos focos da mais nova edição do podcast A Covid-19 na Semana, com participação do médico Aristóteles Cardona, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares. Ele afirma que a confirmação de que é possível pegar a covid-19 mais de uma vez não deve gerar pânico ou alarme entre a população, “Não é preciso entrar em desespero, mas a gente precisa ficar atento. Ainda é muito cedo para a gente entender as repercussões.”
No entanto, segundo Cardona, os estudos são criteriosos e deixam poucas dúvidas. “Esses casos chamam atenção porque há uma confirmação. Muita gente olha a notícia com um pouco de descrédito, mas é importante explicar os casos. Não é somente um outro exame que deu positivo. Os pesquisadores analisam a genética desse vírus. Depois de um tempo, eles viram novamente a sequência genética e notaram que era um outro vírus.”
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O caso de Hong Kong teve aval para publicação na Clinical Infectious Diseases, revista médica da Universidade de Oxford, no Reino Unido. A divulgação confere ainda mais credibilidade ao estudo. O relato é sobre um paciente jovem e saudável que não faz parte dos grupos de risco, O segundo diagnóstico foi feito quatro meses após a primeira infecção e a análise genética confirmou que se tratava de uma linhagem viral diferente da anterior.
Um dia depois da confirmação, que veio a público na segunda-feira (24), pesquisadores da Bélgica e Holanda também relataram casos de reinfecção. No Brasil, há possíveis pacientes nessa situação acompanhados por especialistas em São Paulo, sul da Bahia, Minas Gerais e em Goiás. Na sexta-feira (28), a Universidade de Nevada, nos Estados Unidos, divulgou um artigo em que diz ter identificado o primeiro caso de reinfecção no país.
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A variedade de perfis de pacientes nessa situação mostra que ainda não é possível estabelecer um padrão das reinfecções. Na holanda, a vítima teria sido um idoso, com saúde frágil. Em Hong Kong um jovem de 33 anos que apresentou sintomas leves e, nos Estados Unidos, uma pessoa de 25 anos, que teve sintomas mais graves no segundo episódio, precisando de internação.
A única certeza, como afirma Aristóteles Cardona, é de que ainda há muito o que se descobrir e os processos de imunização serão diretamente impactados. “Isso também liga o alerta com relação às vacinas. A gente tem muitas expectativas, mas pode ser que elas não tragam imunidade permanente. A gente não sabe quanto as vacinas vão oferecer de imunidade. Pode ser por anos, por meses. Isso vai exigir uma mobilização e uma série de análises.”
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As reinfecções mudam também percepções sobre conceitos como imunidade coletiva e de rebanho e a ideia de que quem pegou a covid-19 uma vez está automaticamente protegido. No primeiro caso, a leitura de que uma comunidade poderia se livrar do coronavírus com a contaminação de boa parte da população esbarra agora na identificação de vírus geneticamente diferentes em pessoas que já tinham sido diagnosticadas. Já a certeza de que os que ficaram doentes estão livres do coronavírus nunca foi confirmada pela ciência.