Exclusivo: ‘Mercosul subiu nas prioridades de todo o mundo’, diz chanceler Ernesto Araújo

Ministro diz ao GLOBO que acordo com a União Europeia é parte do processo de abertura comercial do Brasil, que já mira outros parceiros

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O ministro de Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo: após acordo entre UE e Mercosul, Brasil busca outros acordos Foto: EVARISTO SA / AFP
O ministro de Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo: após acordo entre UE e Mercosul, Brasil busca outros acordos Foto: EVARISTO SA / AFP
Eliane Oliveira | O Globo

Após fechar um acordo de livre comércio com a União Europeia (UE), o próximo passo a ser dado pelo Mercosul é buscar um tratado semelhante com a Associação Europeia de Livre Comércio (Efta), bloco formado por Noruega, Suíça, Liechtenstein e Islândia. A informação é do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que conversou com O GLOBO, por telefone, durante uma escala que fazia em Fortaleza, vindo de Bruxelas (Bélgica) , onde o acordo UE/Mercosul foi fechado . Segundo o chanceler, a partir de agora, o mundo todo vai querer negociar com o bloco  sul-americano .

Araújo garantiu que o Brasil continua engajado  na agenda do  meio ambiente e reclamou que a imagem do país está distorcida lá fora. O ministro alertou que o Acordo de Paris – firmado em 2015 por 195 países para mitigar os efeitos do aquecimento global – pode ser usado como pretexto para a adoção de barreiras às exportações brasileiras. Leia os principais trechos da entrevista:

O acordo com a UE depende da aprovação dos parlamentos dos dois blocos e, por isso, deve demorar a entrar em vigor. Acredita que, mesmo assim, o simples anúncio pode ter efeitos de curto prazo?

Sim. A própria perspectiva do acordo muda a estratégia de investidores, que desde já passam a planejar investimentos no Brasil e no Mercosul.

Em algum momento, durante a reunião ministerial de Bruxelas, o senhor pensou que o acordo não seria fechado?

Nesses últimos dias, não. Desde que cheguei em Bruxelas tive a sensação de que havia uma determinação, tanto dos europeus quanto nossa, de fechar agora. Havia um sentimento de que este era o momento, um clima bom e de amizade, a vontade de construir algo em comum. Em nenhum momento achei que não fôssemos fechar o acordo.


Qual o próximo passo do Mercosul?

O próximo passo é o Efta, que está um pouco mais avançado. Depois, virá Cingapura e, mais adiante, Canadá e Coreia do Sul.  Todas essas negociações vão acelerar agora, com o interesse que o Mercosul está gerando a partir do fechamento com a União Europeia. É outro fator que já começa a ter efeitos antes da entrada em vigor. A partir de hoje, o Mercosul subiu nas prioridades de todo o mundo, inclusive dos Estados Unidos.

O Brasil vai abrir todas as áreas de serviços, como financeiros, marítimos e outros para a União Europeia?

Em determinadas condições. Alguns terão uma abertura maior e outros não. Mas a medida é fundamental para a confiança dos investidores.  Isso tem um impacto enorme nos custos para a economia. O acordo tem uma dimensão que não é só simplesmente o mercado que ele abre para produtos específicos. É toda uma dinamização da economia. Oportunidades de abertura que geram redução de custos e mais eficiência. É preciso olhar todo o circuito econômico como resultado do acordo.

O senhor espera a participação em massa dos europeus em projetos de infraestrutura no Brasil com esse acordo?

Sim, e a curto prazo! Essa questão da segurança jurídica que o acordo proporciona vai atrair mais investidores europeus para projetos de infraestrutura.

Qual o impacto do acordo na economia brasileira?

Há muitos ângulos para olharmos o acordo. O principal é que consolida uma coisa que a gente já tem falado, que é a filosofia de abertura econômica que a gente está tentando colocar, rompendo uma tradição. Vamos em frente, sem medo e com a determinação de que somente a abertura econômica vai ajudar a transformar o país. Estamos fazendo, na política comercial, a nossa parte nesse grande processo de transformação que é que está em curso no Brasil. Os brasileiros querem uma economia mais aberta, uma economia que respire, que seja mais ligada ao mundo e atraia investimentos.

O acordo se insere, então, no processo de abertura comercial que vem por aí?

Esse acordo é parte de um grande projeto de política comercial, que é parte de um grande projeto nacional. Não é uma coisa isolada. Faz parte também de todo esse projeto de reformas, como a da Previdência e todas as que virão depois. Vamos criar uma economia menos dependente do Estado, com mais empreendedorismo, permitir que as pessoas tenham mais liberdade econômica, menos regulamentação, menos barreiras.

Foi introduzido um capítulo no texto que menciona não apenas o Acordo de Paris, mas também temas como a biodiversidade das florestas, o respeito aos direitos trabalhistas e a proteção dos direitos das populações indígenas, como compromissos dos países signatários. Como isso foi negociado?

Todos concordaram em colocar esse capítulo no texto. De nossa parte, não temos qualquer receio em relação a isso. Ao contrário, mostra que há comprometimento do Brasil. Infelizmente, nossa política ambiental, sobretudo, tem sido objeto de muita distorção.


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