Levantamento do Instituto Locomotiva indica que 73% das pessoas pretas e pardas perderam renda durante a pandemia. Entre os brancos, a taxa é de 60%.
A pesquisa foi encomendada pela Cufa (Central Única das Favelas) e divulgada nesta 4ª feira (17.jun.2020).
Quase a metade das pessoas negras (49%) disse que deixou de pagar alguma conta no período, enquanto o percentual ficou em 32% para as brancas.
O estudo aponta ainda que 71% dos negros não tinham nenhuma reserva financeira no início da pandemia. Entre os 29% que tinham dinheiro guardado, 12% já usaram todo o recurso e 23% gastaram a maior parte para se manter durante a crise.
O presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meireles, destaca que esse tipo de resultado está ligado a questões estruturais do racismo no Brasil. Ele lembra, por exemplo, que 49% dos brancos que acessam a internet têm computador.
O percentual cai para 38% entre os pardos e para 34% entre os pretos, que muitas vezes vão acessar a rede apenas pelo celular. “Estudar ou ter acesso ao auxílio emergencial é diferente entre os negros e os brancos”, enfatiza Meireles sobre a diferença de ter 1 computador em casa.
Apenas 9% dos homens negros acima de 25 anos têm ensino médio completo. As mulheres graduadas são 13%. Já entre os brancos, os percentuais são de 23% e 27%, respectivamente.
CLASSE E RENDA
A diferença de condições materiais também aparece em outros dados do levantamento. Segundo o estudo, as classes D e E são compostas majoritariamente por pessoas negras (76%).
Por outro lado, as classes A e B são na maioria (63%) brancas. “Três quartos dos pobres são negros e dois terços dos ricos são brancos”, resumiu Meireles.
O estudo mostra que a diferença de renda está ligada a uma menor proporção de negros em posições melhor remuneradas: 90% dos negros ganham até R$ 3.060 e a mesma proporção de brancos recebe até R$ 6.122.
Quando o patamar é mais alto, a desigualdade é ainda maior: 95% dos negros têm rendimentos de até R$ 4.591. Para os brancos, o mesmo percentual ganha até R$ 10.187.
Ao observar especificamente os cargos de chefia, a pesquisa constata que 66% dos brasileiros têm chefes brancos, 21% pardos e 10% pretos. “O que mostra uma dificuldade real de promoção da população negra dentro das empresas”, enfatiza Meireles.