Uma jovem de 23 anos foi enterrada na sexta-feira (1º), usando seu vestido de noiva, no mesmo horário em que estaria se casando, às 9 horas. Milena Toschi de Andrade morreu atropelada por um motoqueiro, na manhã da última quinta-feira, quando estava indo trabalhar, por volta das 6h30, em Francisco Morato, na grande São Paulo.
Segundo a família da vítima, não há nenhuma sinalização onde a jovem foi atropelada, na rodovia Manoel Silveira Pinto. Milena tentava atravessar a rua, quando um homem de moto não parou para ela terminar a travessia.
A família se queixa da demora no atendimento.
“Chegou uma ambulância só com o motorista, sem paramédicos e sem equipamento de socorro. Ela morreu no local. Infelizmente é o que a gente tem nesse município”, diz o primo.
Familiares e amigos fizeram uma manifestação no mesmo local em que a jovem morreu. Eles cobraram providências de sinalização na Rodovia.
“A prefeitura deu uma nota totalmente mentirosa dizendo que o socorro demorou oito minutos, mas na verdade, não foi assim que aconteceu. Meu tio ficou 40 minutos em estado de choque, vendo a sua filha morrer”, relata a prima da vítima, Jéssica Toschi, 23.
Imprudência do motoqueiro e do poder público
“Foi a menos de 100 metros da residência dela. Ela atravessou para ir pegar o ônibus, e nisso, os veículos pararam para ela atravessar e daí veio o motoqueiro e a atropelou”, relata o primo da vítima, Diego Toschi.
A família acredita que houve imprudência, tanto do motoqueiro, quanto do poder público, já que houve outras mortes anteriores no local, devido à falta de sinalização. “Não vejo como uma fatalidade, foi um acidente que poderia ter sido prevenido, a gente sabe que tem muitos motoqueiros que andam aí, como se estivessem correndo para a morte mesmo. E ele (o motoqueiro) continua a vida dele, e nós perdemos”.
O motoqueiro que atropelou a jovem teve leves ferimentos, compareceu à delegacia para prestar depoimento e foi liberado. Ele deve responder ao processo em liberdade.
Da periferia, formada na USP e batalhadora
Moradora de Francisco Morato, cidade pobre da grande São Paulo, aos 23 anos, Milena já estava formada em pedagogia, falava espanhol fluente e havia realizado muitos sonhos.
“Fazemos parte do baixo escalão da sociedade, e ela se formou na USP e já dava aulas para o quarto ano de uma escola. Ela havia passado há pouco tempo em primeiro lugar em um outro concurso”, conta Diego.
Mas, para conquistar os objetivos, a jovem teve que enfrentar muitos obstáculos. “O itinerário dela era acordar 4 horas da manhã e ir dormir meia-noite. Ela trabalhava e sempre correu atrás dos objetivos. Uma menina radiante, muito boa”, afirma o primo.
Momento feliz com o noivo
A jovem professora vivia um dos momentos mais felizes de sua vida. Ela estava morando com o noivo havia apenas seis dias, no apartamento que haviam comprado juntos em Perus, na zona oeste de São Paulo.
“Batalharam e conseguiram juntos. Estavam terminando de mobiliar o apartamento do jeitinho que eles queriam, e tinham programado uma viagem de lua de mel ao Peru, eles viajariam hoje”, relata.
O primo conta que a família estava muito feliz e empolgada com o casamento que seria realizado na manhã de ontem. Os pais de Milena vieram da cidade de Parisi, no interior de SP para celebrar o casamento da filha.
Noivo faz homenagem em rede social
O noivo de Milena, Ivan Viana, fez uma postagem de despedida no Facebook.
“Me dói tanto saber que ontem estávamos tão felizes por nossas conquistas, por nosso amor ser tão grande, por saber que amanhã iríamos realizar o nosso maior sonho que era nos casar, felizes por nossa casinha estar prontinha para começarmos nossa vida juntinhos, como você sempre dizia”.
Ele continua falando da vida que haviam sonhado juntos.
“Foi minha companheira, minha amiga, minha conselheira, e mais que tudo isso, o amor da minha vida. A pessoa que planejou a vida inteira junto de mim, que jamais deixou eu desistir de algo! A única explicação é que ela era tão perfeita que Deus a quis logo ao lado dele, que ela brilhe lá no céu como sempre brilhou na minha vida e na vida de todos que a tinham por perto. Peço a Deus que o amor que você me deu, esteja sempre no meu coração, e que sua luz me acompanhe e me ilumine como você sempre fez, Mor”.
Ela foi enterrada no Cemitério Dom Bosco, em Perus, na zona oeste de São Paulo.
Prefeitura diz que socorro chegou em oito minutos
Em nota, a Prefeitura de Francisco Morato lamentou a morte da professora, porém, afirmou que o Corpo de Bombeiros chegou ao local, poucos minutos após serem acionados. Segundo a Prefeitura, a jovem chegou a ser socorrida no Hospital Lacaz.
Em relação à falta de sinalização na rodovia movimentada da cidade, o município reconhece a gravidade da situação, mas diz estar aguardando repasse do Governo do Estado para iniciar as obras.