Joaquim Levy pede demissão da presidência do BNDES

Saída de Levy do banco de fomento é mais uma crise do governo Bolsonaro

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Alexa Salomão
William Castanho
Bernardo Caram
Folha

O economista Joaquim Levy renunciou à presidência do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) neste domingo (16), após o presidente Jair Bolsonaro declarar que ele estava “com a cabeça a prêmio”.

A saída de Levy do banco de fomento é a primeira baixa na equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, e mais uma crise do governo.

“Solicitei ao ministro da Economia meu desligamento do BNDES. Minha expectativa é que ele aceda”, disse Levy, em mensagem a Guedes.

O economista agradeceu a lealdade, dedicação e determinação de sua diretoria. “Agradeço ao ministro o convite para servir ao país e desejo sucesso nas reformas.”

No sábado (15), Bolsonaro disse estar “por aqui” com o economista. O estopim, segundo o presidente, foi a indicação de Marcos Barbosa Pinto para a diretoria de Mercado de Capitais do banco. Ele foi assessor do BNDES no governo do PT e voltaria ao banco para o cargo de diretor de Mercado de Capitais.

Presidente BNDES | Joaquim Levy é Doutor pela Universidade de Chicago, foi Diretor Financeiro do Banco Mundial, Ministro da Fazenda de Dilma (2015), Secretário do Tesouro de Lula (2003 - 2006) e ex-Diretor do Bradesco | Foto: Alan Marques/Folhapress
Presidente BNDES | Joaquim Levy é Doutor pela Universidade de Chicago, foi Diretor Financeiro do Banco Mundial, Ministro da Fazenda de Dilma (2015), Secretário do Tesouro de Lula (2003 – 2006) e ex-Diretor do Bradesco | Foto: Alan Marques/Folhapress

Levy não comentou as declarações de Bolsonaro. Levado por Guedes para a presidência do BNDES durante a atual gestão, ele foi ministro da Fazenda de Dilma Rousseff (PT). Antes, foi secretário do Tesouro Nacional de Lula. Assim como o ministro da Economia, fez doutorado na Universidade de Chicago —reduto do pensamento econômico liberal.

Bolsonaro disse que “governo é assim, não pode ter gente suspeita” em cargos importantes. “Essa pessoa, o Levy, já vem há algum tempo não sendo aquilo que foi combinado e aquilo que ele conhece a meu respeito. Ele está com a cabeça a prêmio já há algum tempo”, afirmou.

resistência do presidente a Levy vem desde o governo de transição. Em novembro de 2018, quando já estava eleito, Bolsonaro disse que, ao aceitar a indicação, precisava “acreditar em Guedes”.

Na ocasião, o presidente afirmou que “houve reação” ao nome de Levy por ele ter “servido à Dilma e ao [ex-governador do Rio do Janeiro Sérgio] Cabral”. Ele foi secretário de Finanças.

Antes de assumir o cargo de presidente do BNDES, Levy foi diretor financeiro do Banco Mundial, em Washington. Também trabalhou como técnico do FMI (Fundo Monetário Internacional). No setor privado, o economista foi diretor do Bradesco.



CRISE

Barbosa Pinto, no sábado, enviou uma carta a Joaquim Levy, à qual a Folha teve acesso, para renunciar ao cargo.

Bolsonaro havia dito pouco antes que o presidente do BNDES tinha de demitir o advogado ou seria demitido até esta segunda-feira (17).

O advogado, que foi assessor e chefe de gabinete da presidência do BNDES em 2005 e 2006, afirmou ter “muito orgulho” da própria carreira. Ele, informalmente, ajudou o governo petista na elaboração de projetos de PPPs (parcerias público-privadas).

Em entrevista à revista Capital Aberto, Barbosa Pinto disse que colaborou na criação do Prouni, programa que concede bolsas a alunos carentes, com então ministro da Educação, Fernando Haddad (PT), em 2008. Bolsonaro venceu Haddad no ano passado.

Barbosa Pinto atuou ainda na CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

No setor privado, de 2011 a 2018, foi sócio de Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central, na Gávea Investimentos. Integrou conselhos de administração de diversas empresas.

O advogado recebe elogios de economistas. A decisão de enviar a carta, mesmo sem ter conseguido conversar com Levy, foi para demonstrar que não tem engajamento partidário.

A intenção de não ser usado como pivô de disputa política na aérea econômica do governo pesou na decisão. Ele tomou posse na quarta-feira (12) e começaria a trabalhar na segunda.

Guedes indicou insatisfação com o trabalho de Levy à frente do BNDES em entrevista a Gerson Camarotti, do G1, neste sábado. “O grande problema é que Levy não resolveu o passado nem encaminhou solução para o futuro”, afirmou o ministro.

Guedes referia-se a investigações de possíveis responsáveis por empréstimos concedidos pelo banco a empreiteiras, nos governos do PT, para obras no exterior. Em troca, elas pagariam propina.

Até o momento, nenhum funcionário do banco foi apontado como participante do esquema, mas Bolsonaro e Guedes insistem no discurso de abrir a caixa-preta do BNDES.

Outro motivo de descontentamento do ministro com Levy é a resistência do economista em devolver o dinheiro injetado no BNDES no passado.

Guedes já disse que espera receber R$ 126 bilhões neste ano, mas Levy não se comprometeu com a cifra. Os recursos são tratados como necessários para ajudar no ajuste fiscal do governo.

DEMISSÕES

No período de três dias, o presidente demitiu ou prometeu demitir três nomes importantes do alto escalão do governo.

Na quinta-feira (13), o governo anunciou a saída do general Carlos Alberto dos Santos Cruz, após seguidas crises com os filhos do presidente.

Em encontro com jornalistas, Bolsonaro disse na sexta (14) que demitiria também o general Juarez Aparecido de Paulo Cunha da presidência dos Correios por ter comportamento sindicalista.

Nesse mesmo dia, após críticas de Guedes ao relatório apresentado pelo deputado federal Samuel Moreira (PSDB-SP), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que o governo é uma “usina de crise”.

No sábado, foi a vez de Bolsonaro ameaçar Levy.

O general do Exército da reserva Frank limberg Ribeiro de Freitas deixou a Funai (Fundação Nacional do Índio) na terça (11).

Desde o começo do ano, o governo registra quedas de nomes ligados à ala ideológica e militar.

Já deixaram o governo, além de Santos Cruz, Ricardo Vélez Rodríguez (ex-ministro da Educação) e Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral).

A Apex (Agência de Promoção de Exportações do Brasil) já foi comandada por Alecxandro Carreiro e Mario Vilalva.

Três já foram demitidos da presidência do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas), do MEC.


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