Em vídeo, Eduardo Bolsonaro defende indicação de seu nome para embaixada nos EUA

Deputado rejeita críticas de que não tem experiência para o cargo; Olavo de Carvalho classifica possibilidade como retrocesso

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Em vídeo, Eduardo Bolsonaro rebate críticas e destaca qualidades para ser nomeado embaixador em Washington Foto: Terceiro / Reprodução
Em vídeo, Eduardo Bolsonaro rebate críticas e destaca qualidades para ser nomeado embaixador em Washington Foto: Terceiro / Reprodução
Amanda Almeida | O Globo

BRASÍLIA – O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) publicou um vídeo no YouTube defendendo seu nome para o cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos, após críticas do próprio círculo interno do grupo bolsonarista. O parlamentar rejeita alegações de que, ao assumir a função, estaria abandonando o mandato e afirma ter “gabarito” para a cadeira. Ele diz ainda que, se nomeado, “honrará” os votos que recebeu trabalhando pela aproximação entre os dois países. 

Com quase sete minutos, o vídeo rebate as críticas que ele e Jair Bolsonaro vêm sofrendo depois de o presidente dizer, na última quinta-feira, que poderia indicar o próprio filho para o cargo. Aqueles que se opõem à ideia dizem, principalmente, que o parlamentar não tem experiência para chefiar uma das embaixadas mais importantes para o país.

— Essa possibilidade existe não pelo fato de eu ser um mero filho do presidente Jair Bolsonaro. Sou formado em Direito pela UFRJ, advogado concursado, passei na prova da OAB, escrivão da Polícia Federal, uma pós-graduação em Economia. Falo inglês, português e espanhol. Tenho uma vivência no mundo. Já tive oportunidade de viajar por boa parte dele. E já fiz várias idas ao Estados Unidos. Algumas a lazer, algumas também a trabalho — lista o deputado.

Em representação protocolada no Ministério Público Federal, em que cobra medidas contra a eventual nomeação, o PSOL, por exemplo, lista todas as qualificações de embaixadores, dizendo que o filho do presidente não tem um currículo compatível. A título de comparação, o partido ressalta que o último ocupante do posto, Sérgio Amaral, serviu como diplomata em Paris, Bonn, Genebra e Washington e foi embaixador em Londres e Paris, além de ter lecionado Relações Internacionais na Universidade de Brasília (UnB).PUBLICIDADE

— Se parar para reparar, se somar isso tudo, viagens internacionais que fiz com o presidente Bolsonaro, como presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, eu tenho um certo gabarito, e é isso que me dá respaldo para essa possibilidade de nomeação — defende-se Eduardo, depois de falar sobre sua experiência.

Críticas de Janaína Paschoal

No vídeo , o deputado diz ainda que não vai abandonar o mandato e que “não trabalha pela reeleição, mas pelo país”, parecendo rebater críticas internas. Numa série de posts do Twitter nesta sexta-feira, a deputada estadual Janaina Paschoal  (PSL-SP) defendeu que Eduardo Bolsonaro, seu companheiro de partido, recuse o convite para a embaixada (veja matéria aqui).

“Muito se está a falar sobre eventual nepotismo, sobre capacidade, sobre ser necessário (ou não) integrar a carreira diplomática. Mas eu analiso a questão sob outro ângulo. O que pensam os quase dois milhões de eleitores do deputado?”, escreveu a deputada num dos posts sobre o assunto. Ela continuou: “Quem fez Eduardo Bolsonaro deputado federal foi o povo. Isso precisa ser respeitado. Crescer, muitas vezes, implica dizer não ao pai”.

A possibilidade também foi mal recebida por Olavo de Carvalho , ideólogo da direita, que em vídeo divulgado neste sábado se posiciona contra a nomeação de Eduardo Bolsonaro como embaixador do Brasil em Washington. Sob alegação de que o filho do presidente tem uma “missão histórica” no Congresso — a de liderar uma eventual CPI para investigar o Foro de São Paulo —, Olavo diz que um novo cargo seria a “destruição da carreira” de Eduardo.

No vídeo, com quase três minutos, o guru do bolsonarismo comenta que o deputado assinou requerimento para a criação da Comissão parlamentar de Inquérito (CP) sobre o Foro de São Paulo na última semana. Ele diz que o deputado é responsável por lançar essa frente de atuação, que “arrisca ser o acontecimento mais importante da nossa história parlamentar”.

Para Olavo, por esse motivo, Eduardo não pode abandonar o Congresso e ocupar um cargo de embaixador, no qual, completa Olavo, não poderia “nem falar sobre o assunto”.

— Você não pode começar uma coisa dessa envergadura e, depois, assumir um posto diplomático em que não vai poder nem falar do assunto. O diplomata tem lá as suas obrigações regulamentares e não vai poder nem ficar falando do Foro de São Paulo — diz.

Ressaltando ser amigo de Eduardo e do presidente Jair Bolsonaro “até a morte”, Olavo enfatiza: 
— Seria um retrocesso (Eduardo tornar-se embaixador). Seria a destruição da carreira.

Vídeo de Jair Bolsonaro

Em meio às críticas ao anúncio da indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada, o presidente Jair Bolsonaro também publicou, neste sábado, um vídeo no Twitter em que o chefe da Casa Branca, Donald Trump, elogia seu filho. A declaração de Trump ocorreu em março, quando Bolsonaro o visitou.

Com o título “Donald Trump e Deputado Eduardo”, Bolsonaro publicou o vídeo e duas perguntas: “De 2003 para cá, você sabe quem foram nossos embaixadores em Washington?” e “Nesse período como foram nossas relações com os Estados Unidos?”.

No vídeo, Trump participa de um entrevista com jornalistas, ao lado de Bolsonaro. Ao ser questionado sobre a possibilidade de intervenção militar na Venezuela, à época, o presidente americano disse que “todas as opções estão abertas” e completou com o elogio a Eduardo.

— O filho do presidente foi fantástico, por favor, fique de pé. O trabalho que realizou durante um período muito difícil foi fantástico, eu sei que é algo que seu pai fica muito grato de ver. Muito obrigado, trabalho fantástico — disse Trump.

‘Rodada de encontros’

No vídeo, o deputado diz ainda que, depois de o pai ser eleito, ele fez uma “rodada” de encontros com investidores de diferentes ramos, “todos com possibilidade de investir seu dinheiro no país”.

— Essa construção ajuda o presidente Donald Trump a se dar tão bem com o presidente Bolsonaro — diz, acrescentando que, na visita de Bolsonaro aos Estados Unidos, Trump “quebrou o protocolo” e, a jornalistas, o elogiou pelo “trabalho internacional” que vem fazendo junto ao pai.

Eduardo destaca ainda que, “não é só Bolsonaro que cogita levar seu filho para ser embaixador nos EUA”, citando notícias de que o presidente americano pensa em indicar um de seus filhos para a embaixada do país no Brasil.

Ainda em sua defesa, o deputado diz que, em dezembro do ano passado, foi convidado para dar uma entrevista à emissora Fox News:

— Passei a imagem do novo Brasil que está nascendo, um Brasil que não é socialista. Essa é uma das função do embaixador, de vender a imagem do Brasil lá fora, de dizer que aqui não é somente a terra da caipirinha, do samba, do carnaval, do futebol. É terra de pessoa trabalhadora, honesta, que honra sua palavra. Enfim, para dar a nova cara para o Brasil.

Eduardo encerra o vídeo, publicado na sexta-feira e retuitado pelo irmão Flávio neste sábado, dizendo que aceita críticas, mas não decepcionará seus eleitores, caso a nomeação se concretize.

— Aqui, no Congresso, eu sou apenas mais um entre os 513 deputados federais. Lá fora, eu serei o Brasil no exterior. Serei uma pessoa que continuará honrando seu voto, empenhado em outra missão, mas missão em favor do Brasil também. Não estou indo para lá para passear, como outros políticos fizeram, que abandonaram seus mandatos sem dar satisfação e passaram a viver no exterior — diz, sem citar nomes.

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