O Governo do Estado e a Prefeitura do Natal estudam incluir plano de testagem da Covid-19 para alunos e professores dentro dos respectivos protocolos sanitários para a reabertura de escolas. As duas gestões, tanto a estadual quanto a municipal, ainda não definiram a data de retomadas das redes de ensino, mas seguem com o planejamento para reiniciar calendário acadêmico ainda este ano.
Segundo a Secretaria Estadual de Educação e Cultura (Seec), que iniciou ao longo das últimas duas semanas o protocolo sanitário para a reabertura escolar, a adoção de testes para alunos e professores já foi incluída nas discussões diárias. A rede estadual de ensino tem 216 mil alunos e 14 mil professores.“Na elaboração dos protocolos de retomada, a testagem está sendo discutida. Esse protocolo está sendo feito por todas as entidades e órgãos representativos do Estado na área da educação. O texto do plano será apresentado ainda neste mês”, pontuou a assessoria de imprensa da Seec.
O plano de testagem também é discutido pela Secretaria Municipal de Educação (SME). A pasta já discute o assunto com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), mas não houve, até o momento, uma definição sobre o tema. O corpo gestor da educação em Natal segue com os trabalhos de elaboração dos protocolos de biossegurança, bem como os critérios técnicos para o retorno das aulas, a partir da orientação do comitê científico da Prefeitura do Natal. “[A SMS] está dialogando sobre as questões de testagem com a Secretaria Municipal de Saúde. Nesse momento estamos no processo de construção desses protocolos. Quando os protocolos forem finalizados, serão publicados no Diário Oficial do Município (DOM), com todas as medidas para a retomada das aulas”, informou a pasta municipal.
O Estado previa retomar as atividades presenciais nas escolas do Rio Grande do Norte no dia 17. No entanto, após recomendação do Comitê Científico de Enfrentamento à Covid-19, a governadora Fátima Bezerra (PT) decidiu por cancelar a data de reabertura das salas de aula na semana passada. Ainda não previsão de quando o calendário estadual será retomado.
No caso de Natal, o prefeito Álvaro Dias (PSDB) permitiu a reabertura das escolas particulares a partir do dia 10 de agosto. Entretanto, após forte pressão popular, ele foi demovido da ideia. O Município também não definiu datas para reabrir a escolas da capital. A rede municipal tem 58 mil alunos.
Reabertura das escolas só pode ser feita com testagem, diz estudo
A reabertura das escolas de forma segura em meio a processos de flexibilização da quarentena e retomada das atividades econômicas deve ser combinada com uma estratégia de alta cobertura em testagem, rastreamento de casos do novo coronavírus e isolamento. Essas medidas seriam essenciais para evitar uma segunda onda da covid-19, conforme indica um estudo de modelagem publicado anteontem pela University College London.
Embora a análise tenha sido feita para o Reino Unido, o trabalho pode ajudar outros países. A questão é se o local estará apto a cumprir todas as orientações necessárias. Um segundo estudo, desta vez observacional, analisou dados reais da primeira onda de covid-19 em Nova Gales do Sul, na Austrália, e encontrou baixos níveis de transmissão do vírus em escolas e creches. A Austrália, diferentemente de muitos outros países, manteve as instituições de ensino abertas, com orientação para distanciamento físico e higiene.
Os dois estudos foram publicados pela revista científica The Lancet Child & Adolescent Health e demonstram a necessidade do rastreamento de contatos para o gerenciamento da epidemia.
“Nossa modelagem sugere que, com uma estratégia de teste e rastreamento altamente eficaz em vigor no Reino Unido, é possível que as escolas reabram com segurança em setembro. No entanto, sem uma estratégia de teste-rastreamento-isolamento, o Reino Unido arrisca um sério segundo pico epidêmico em dezembro ou fevereiro”, disse Jasmina Panovska-Griffiths, líder do estudo britânico.
Os resultados sugerem que, para evitar uma segunda onda, é preciso aumentar os testes entre 59% e 87% nas pessoas sintomáticas. Roberto Kraenkel, professor da Unesp, avalia que esse tipo de estratégia é difícil. “O Brasil não tem nenhum esquema de rastreio e isolamento eficiente. Algumas cidades com poucos casos conseguiram fazer rastreio, como Florianópolis, mas falta de tudo, até insumos para fazer teste”, adverte.