Antenor Roberto: ‘O PSDB está dividido, mas Ezequiel integra o nosso governo’

Fonte: Jornal De Fato

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Por César Santos – JORNAL DE FATO

O vice-governador Antenor Roberto (PCdoB) considera possível desmobilizar a oposição para fortalecer o projeto de reeleição da governadora Fátima Bezerra (PT), mesmo depois de PSDB e MDB anunciarem aliança com possibilidade clara de unir a oposição em torno de uma chapa majoritária. A desmobilização, defendida por Antenor, passa pelo diálogo com o MDB, que ele ainda acredita ser possível.

“A governadora continua dialogando com o MDB”, afirmou nesta conversa no “Cafezinho com César Santos”. E também ressaltou que Ezequiel Ferreira, líder do PSDB e visto como provável candidato a governador, continua dentro da administração estadual.

Vale ressaltar que a entrevista com Antenor Roberto foi feita na quinta-feira, 24, e como os acontecimentos políticos-eleitorais estão ocorrendo em alta velocidade, é possível que alguns pontos colocados pelo vice-governador já estejam superados quando esta edição chegar ao leitor. Ou não.

Confira a entrevista.

O governo, hoje, considera o presidente da Assembleia Legislativa, Ezequiel Ferreira de Souza, um companheiro ou um adversário de oposição?

A governadora Fátima assumiu, como não poderia deixar de ser, a sua própria sucessão. Então, o que a gente tem que colocar é o seguinte: a reeleição da governadora não é uma reeleição do vice-governador, não é reeleição de senador. A partida é a reeleição da governadora e, com isso, ela procura para além da aliança que nós temos constituído desde 2018, buscando forças que podem agregar para o segundo mandato. Fomos buscar no campo da oposição a pretensa candidatura que eles tinham e que poderiam unir o ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo (PDT) e o atual prefeito Álvaro Dias (PSDB) e fomos bem-sucedidos nessa missão. Carlos Eduardo vem para o nosso projeto. Então você deixa de ter a possibilidade concreta do atual prefeito da capital, por exemplo, se tornar o candidato que juntaria a oposição. A oposição continuou com solidão de só ter candidato ao senado.

Mas, sobre Ezequiel, insisto, ele continua um companheiro do governo ou um provável adversário?

É fato que surgiu agora essa possibilidade de o presidente da Assembleia Legislativa ser candidato a governador. O que sei é que a governadora está se esforçando para o MDB compor a chapa. Ou seja, se o MDB ficar com o nosso projeto, o PSDB não terá candidatura ao governo, uma vez que eles se apresentaram locados, MDB com PSDB, com propósito de construção de uma superchapa proporcional (para deputado estadual) que, inclusive, está em curso com filiações ao PSDB. As definições ainda não aconteceram e o que sei é que o diálogo continua. O PSDB está dividido, a gente sabe disso, mas Ezequiel integra o nosso governo desde o primeiro momento e até hoje participa da administração.

O senhor fala muito em desmobilizar a oposição para fragilizar o adversário. Essa desmobilização passa pela estratégia de inviabilizar uma eventual candidatura de Ezequiel Ferreira ao governo?

A força que a governadora Fátima precisaria trazer para uma coalização à sucessão estadual é o MDB. Inclusive, isso foi conversado desde a visita de Lula ao Rio Grande do Norte, quando teve aquela reunião que toda a imprensa noticiou. Foi formulado o convite junto a Garibaldi Filho (ex-senador e vice-presidente do MDB do RN), no sentido de ele trazer o partido para essa nova coalização da sucessão da professora Fátima Bezerra. A desmobilização da oposição, da qual nós falamos, passa por essa arrumação natural.

O senhor acredita em uma coalização com o MDB?

Sim. A governadora insiste nesse movimento, inclusive apresentando alternativas de filiações de deputados ao MDB. Isso foi conversado, a própria imprensa veiculou a notícia. Esses movimentos aconteceram. Então, as possibilidades existem e a governadora está dialogando.

O senhor foi um dos incentivadores da aliança da governadora Fátima com o ex-prefeito Carlos Eduardo. Até onde vai a importância da presença de Carlos Eduardo na chapa como candidato a senador?

Carlos Eduardo, tirando aquele fora da curva de 2018 (o pedetista foi candidato a governador contra Fátima), sempre somou no campo progressista, inclusive quando deputado (estadual) ele já era um parceiro do nosso PCdoB, onde a gente sempre buscava nele plataformas progressistas. Participamos das administrações municipais dele em Natal, inclusive foi nosso candidato a governador (nas eleições de 2010), então, nós temos toda uma relação que permitiu abrir esse diálogo e que foi importante para trazê-lo para o nosso projeto. Carlos Eduardo tem uma visão desse destroço que o Brasil está mergulhado…

Mas, em 2018, ele defendeu a candidatura do presidente Jair Bolsonaro…

Aquilo foi o fora da curva, como disse antes. Lula fez um pronunciamento muito importante. Ele disse que nós temos várias missões pela frente, mas a reconstrução do Brasil só acontece se a gente resolver a questão nuclear, que é o reencontro da democracia. Eu gostei quando Lula disse que só vai anunciar a candidatura a presidente junto com o arco de aliança e as condições em que será candidato. E uma das condições que ele colocou é que essa frente se constitua não olhando para trás. Quem, por exemplo, não apoiou Haddad (Fernando Haddad, candidato a presidente em 2018 derrotado por Bolsonaro), mas hoje se dispõe a apoiar esse novo projeto será muito importante. Veja o aceno de Geraldo Alckmin (ex-PSDB que se filiou ao PSB para ser o vice de Lula), que se dispôs a reconstruir o estado democrático de direito que foi vilipendiado na gestão do presidente Bolsonaro. Então, quando você reconstitui isso, aí significa diálogo entre as instituições. Como é que você vai sair de uma crise dessas sem dialogar com o poder judiciário, sem dialogar com o Congresso Nacional, com o Ministério Público e com as organizações sociais?

Esse entendimento passa pelo diálogo que antes era visto como impossível, como é caso de Alckmin, e de políticos que bancaram o impeachment da ex-presidente Dilma?

Lula tem a capacidade de dialogar com a segmentação, com a diversidade da sociedade brasileira. Ele defende isso, porque entende que o reencontro da democracia só acontece com a construção de uma frente que não olhe pra trás. Por isso que nós fomos buscar o PDT de Carlos Eduardo. Hoje ele fala com muita tranquilidade que, dada a dificuldade da candidatura de Ciro Gomes (presidenciável do PDT), não cabe a ele fazer a defesa dessa candidatura. Carlos defende que a saída para o Brasil é o ex-presidente Lula.

O discurso de Lula bate de frente com setores mais radicais do PT, que continuam contrários à aliança com partidos que votaram pelo impeachment de Dilma. Parece difícil superar essa questão interna, o senhor não acha?

Quando Lula se reuniu com Garibaldi e Walter Alves, foi produzida uma versão que ali ele estava dizendo que o MDB teria vaga na chapa da governadora. Lula, com sua experiência, não cometeria uma grosseria assim, porque do jeito que ele coordena a eleição dele, Fátima Bezerra coordena a dela. Mas, Lula, exatamente por ser candidato a presidente da República, fez um convite muito sagaz, chamando Garibaldi para vir disputar o Senado. Naquele momento, não havia ainda as tratativas com Carlos Eduardo. Veja que Lula está fazendo esses arranjos em todo o Brasil. Ele procura exatamente entrar no cerne da associação dos Estados, olhando muito o problema da nova composição do Congresso Nacional, porque ele como presidente viveu a experiência e sabe o que o Congresso representa para dificultar um governo. Lula está tendo muita articulação envolvendo a questão da federação, que é uma proposta do PCdoB.

O que a eventual federação representa?

O que é a federação? Trata-se de um núcleo parlamentar que substitua, digamos, o protagonismo que sempre começa pelo chamado Centrão. Defendemos um bloco parlamentar mais definido dentro do projeto que Lula defende para o Brasil, sem prejuízo, claro, de dialogar com todos os outros. O que acontece hoje é que o Congresso assim que termina a eleição, ele primeiro começa a dar o tom com o chamado grupo do Centrão, seja no governo Lula como foi, seja no de Dilma, Temer, até hoje. Então, Lula aprendeu com essa experiência que é preciso blocar também uma grande frente, uma frente ampla, mas que precisa ter um bloco com mais identidade. Lula está buscando no Nordeste com o Renan Calheiros (senador) e com várias outras personalidades do MDB para fortalecer esse movimento, exatamente por saber que dificilmente, do ponto de vista nacional, o partido possa chegar a sua unidade. E aqui, no nosso estado, ele foi explorar essa possibilidade de o MDB estar no palanque dele e da governadora Fátima.

O senhor será candidato nas eleições desse ano?

A minha situação eu deleguei ao meu partido. Quando a governadora discutiu comigo sobre a possibilidade de o MDB ocupar a vaga de vice, eu disse que a reeleição era dela e ela que tinha que organizar. Já temos a organização, uma unidade com relação ao nome do senado (Carlos Eduardo). Vamos agora encaminhar essa solução do vice. Agora, o PCdoB claro que vai reivindicar a vaga de vice, por isso, o diálogo da governadora será com o partido. A direção nacional do PCdoB já conversou com a governadora, trocou essas informações. Essa semana, Fátima recebeu o presidente estadual do nosso partido (Divanilton Pereira), eles estavam conversando sobre a questão do vice. Então, eu vou esperar o desfecho dessa acomodação da chapa para a governadora dizer onde eu posso contribuir.

Tem possibilidade de o senhor ser candidato na disputa proporcional, ser candidato a deputado federal, por exemplo?

Candidato na lista eu não serei. Desde o início eu disse que não tem sentido eu como vice-governador anunciar candidatura a deputado federal ou estadual. A chapa proporcional vai a cargo do PCdoB, que está discutindo como vai ser a federação com outros partidos, de que forma as vagas serão distribuídas e se vai levar em conta o tamanho de cada partido.

Se a governadora precisar da vaga de vice para acomodar um novo parceiro da aliança majoritária, o senhor fará alguma objeção?

Temos que ver qual o espaço político o PCdoB vai ocupar na chapa majoritária. Eu estando no governo como vice, represento um espaço do PCdoB e isso precisa ser considerado. Haverá uma grande frustração do PCdoB, do nosso campo mais à esquerda, se o espaço não for preservado. Mas, entendemos que é preciso construir uma chapa com as melhores condições e não só para o governo. A governadora Fátima também está vendo a possibilidade de eleger uma bancada de deputados. Em 2018, ela só conseguiu eleger dois deputados estaduais. Então é preciso, com essa federação que se formará, ampliar o arco de alianças para facilitar o resultado majoritário e ela ter fôlego também para escalar as eleições proporcionais.

Por que o eleitor do RN deve reconduzir, nas urnas, o governo Fátima Bezerra/Antenor Roberto?

Se você fechar os olhos em 2018, imaginar como estava o Rio Grande do Norte, se convence que o nosso governo deve continuar. Imagine, por exemplo, como estava a área de segurança pública. Era um caos. A polícia ostensiva, mas também as outras polícias estavam paralisadas porque os salários estavam atrasados. Os serviços públicos estavam paralisados como um todo. Os servidores, num nível de endividamento nunca visto. Isso é uma coisa que as pessoas não podem esquecer. O atraso de salários destruiu patrimônio de muitos servidores, porque eles foram se endividando de uma forma que precisaram se desfazer de imóveis, de bem móveis. Foi uma tragédia. Assumimos no primeiro dia de 2019, nunca atrasamos o salário do servidor e ainda pagamos o que o governo passado deixou atrasado. E como é que a gente conseguiu um bilhão de reais de economia para pagar quatro folhas atrasadas? Nós reorganizamos financeiramente o estado. A gente tem que pensar que esse um bilhão de reais, que colocamos em caixa para pagar os salários deixados pelo governo passado, poderia ter feito estrada, comprar equipamentos dos hospitais, melhorar o custeio dos nossos hospitais, investir em mais benefícios para a população. O governo não pôde fazer isso porque teve que fazer escolha, a escolha de colocar os salários em dia. A governadora fez a escolha acertada. Fizemos muitos mais nesses três anos e três meses. Os equipamentos de cultura estavam destruídos, fechados, e nós reconstruímos e devolvemos esses equipamentos à população. Reabrimos o Teatro Alberto Maranhão, a Pinacoteca, biblioteca. Tem o Hospital da Mulher de Mossoró que pegamos parado e que ia virar um grande elefante branco. E graças a nossa competência, nós resolvemos os problemas no projeto técnico, conseguimos assegurar os recursos do Banco Mundial, que financia a obra, e o governo vai entregar a maior obra na área da saúde pública em Mossoró. Então, para cada área que você olhar, você pergunta, como é que o governo encontrou o estado do Rio Grande do Norte falido e hoje se encontra numa situação bem melhor? Não foi milagre, foi muito trabalho e capacidade de governar.

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