Com dificuldade de garantir doses de vacina contra a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, o Brasil enfrenta incertezas na continuidade da campanha.
Além do avanço lento para novos públicos, o Ministério da Saúde não consegue garantir a totalidade de doses para a aplicação do reforço imunobiológico.
Um dos exemplos é para o público de 80 anos ou mais. Essa parcela da população começou a ser imunizada entre janeiro e fevereiro. Até a última sexta-feira (14/5), entretanto, dos 4,2 milhões de vacinados nessa faixa de idade, somente 2,4 milhões receberam a segunda dose — 57%.
O dados fazem parte de um levantamento do Metrópoles, com base em informações divulgadas na plataforma LocalizaSUS, canal de transparência do Ministério da Saúde.
De forma geral, o país vacinou com duas doses da proteção contra Covid 47% de todos os públicos já convocados. Ao todo, 34,4 milhões de pessoas receberam a primeira injeção, e 16,3 milhões, o reforço.
Outro públicos convocados depois do início da campanha também não concluíram ainda a imunização com a segunda dose, como as pessoas entre 70 e 79 anos – em média, 30% ainda não receberam o reforço.
Na última semana, 1.142 cidades enfrentaram dificuldades para aplicar a segunda dose, de acordo com a Confederação Nacional de Municípios (CNM). Além da escassez do insumo, a baixa procura de parcelas dos grupos prioritários também prejudica o panorama.
“A Coronavac é a vacina esperada por 92% dos municípios que relataram a falta de imunizante para concluir o esquema vacinal daqueles que já tomaram a primeira dose”, frisa a entidade municipalista.
A comunidade médico-científica é categórica: a imunização deve seguir o prazo do fabricante e somente duas doses garantem a imunização (das vacinas que vêm sendo aplicadas no Brasil).
“O impacto [da não aplicação da segunda dose no prazo devido] é que a imunidade fica reduzida, permitindo que a pessoa se contamine mais facilmente. Já se tem casos também de pessoas que foram a óbito entre a primeira e a segunda doses”, explica Breno Adaid, coordenador do mestrado profissional em Administração do Centro Universitário Iesb e pós-doutor em ciência do comportamento pela Universidade de Brasília (UnB).
Desde o início da pandemia, o especialista monitora o ritmo de infecções e de vacinação. Para Adaid, o governo precisa realizar campanha educativa.
“Tem faltado campanha para tudo, até porque, anteriormente, o foco [do governo] era vacinar o mais rapidamente todo mundo sem pensar em segunda dose. Após isso, essa campanha nunca veio”, frisa.
Em abril, o Ministério da Saúde determinou que as secretarias estaduais de Saúde aplicassem o maior volume possível de doses, sem guardar reserva técnica para o reforço. A pasta tomou a medida confiando que receberia lotes maiores de doses ao longo das semanas seguintes, o que não aconteceu.
Versão oficial
Segundo o Ministério da Saúde, semanalmente a pasta coordena reuniões com as gestões de saúde estaduais e municipais para definir a orientação adotada a cada nova distribuição, para o cumprimento da imunização.
“Essas recomendações são divulgadas nos Informes Técnicos, que orientam o percentual que deverá ser administrado como primeira e segunda dose para que os intervalos sejam respeitados”, explica a pasta, em nota. A entrega de doses obedece às previsões de entrega dos laboratórios.
Na última sexta-feira (14/5), o Ministério da Saúde começou a distribuição de mais 999,4 mil doses da Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan — a última antes da paralisação por falta de insumos para a produção.
O lote, segundo o governo, é destinado para ajuste no esquema ou continuidade do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19.
“As unidades federativas poderão utilizar o quantitativo para segunda dose, para completar os esquemas vacinais, ou para seguir com a vacinação de grupos prioritários, desde que façam a reserva para a segunda dose”, adianta a pasta.