Quando viaja para fazer turismo, há momentos em que você sente que está sendo explorada(o)? Ou que está contribuindo com a exploração de uma determinada população? Ou as duas coisas ao mesmo tempo? Você se relaciona com os moradores locais? Troca uma ideia? Se acredita que a função deles não é te servir e serem gratos pelas gorjetas, então o turismo exploratório é algo que te incomoda.
No último final de semana, o Natureza Crítica participou de uma visita à Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Barra do Una. A Unidade de Conservação (UC) fica entre os municípios de Peruíbe e Iguape, no estado de São Paulo.
A RDS Barra do Una integra o Mosaico de UCs Juréia-Itatins. Foi criada em 2013 com a Lei nº 14.982/2013. Ali vivem cerca de 150 pessoas, mais de 40 famílias.
De acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC):
A ideia do passeio foi realizar um roteiro etno-cultural, com uma breve imersão na cultura caiçara.
Programação intensa e gratificante
Assim que chegamos, nos reunimos com a gestora da Reserva, um guarda-parque e alguns líderes comunitários. Durante a roda de conversa, nos apresentaram informações sobre a RDS Barra do Una e contaram um pouco da história daquela comunidade caiçara, que segundo Seu Walter, morador, descende tanto de portugueses quanto de escravos.
Apresentados ao turismo de base comunitária, entendemos que pagaríamos o preço justo pelos serviços oferecidos (alimentação, hospedagem e monitorias). Além disso, os valores seriam revertidos para a comunidade.
Depois do bate-papo, hora do almoço. Nos serviram uma refeição tradicional preparada com peixes e mariscos pescados na própria RDS e vegetais ali cultivados.
Após a gastronomia, fomos queimar calorias. Fizemos uma trilha que passa no meio da Mata Atlântica e pelas praias da Barra do Una, Caramboré e Desertinha.
Em seguida, passeamos de barco pelo Rio Una do Prelado (Rio Comprido), contornando a Ilha do Ameixal. Há uma história interessante a respeito deste local. A ilha formou-se artificialmente pela abertura de um canal na década de 1950 e alteração do curso do rio, sofrendo alguns impactos como a degradação da vegetação de restinga. Depois do passeio, tomamos banho de rio. A noite já estava caindo. No entanto, a água estava deliciosamente morna.
Mais tarde, participamos de uma roda de conversa sobre Fandango com o músico Pio, que contou muitos causos e deu uma palhinha com sua viola. O Fandango é uma manifestação artística tradicional da cultura caiçara. Inclui música, dança, poesia e festa. Desde 2013, é considerado Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), órgão que a partir deste ano, com a extinção do Ministério da Cultura, passou a integrar um estranho Ministério da Cidadania.
Ficamos hospedados na casa dos moradores locais. Na manhã seguinte, antes de nos despedirmos da comunidade, tomamos um Café Caiçara, que é tradicionalmente preparado com garapa.
Gostou? Se quiser repetir este roteiro na Barra do Una, entre em contato com a comunidade pela página do Facebook.
Promovendo uma Cultura de Áreas Protegidas
A experiência aconteceu no âmbito do projeto UC Conhece, criado em 2015 pelo Conselho de Representantes de Funcionários da Fundação Florestal, um dos órgãos gestores das Unidades de Conservação paulistas. Hoje, está vinculado ao Conservatio, movimento que tem como objetivo promover a cultura de áreas protegidas, favorecendo a mudança de comportamentos sociais em relação aos territórios protegidos.
A iniciativa carrega no nome um feliz trocadilho, que questiona por que São Paulo tem um número tão baixo de visitações nessas áreas. O estado possui a maior população do país. São 41 milhões, sendo 20 somente na região metropolitana de São Paulo. Possui ainda um dos maiores sistemas de áreas protegidas estaduais, com mais de 100 Unidades de Conservação de diferentes categorias. Ou seja, essas UCs tem grande potencial de visitação inexplorado. Considerando ainda que a população possui poucas opções de turismo outdoor.
O Projeto visa à disseminação de práticas conservacionistas e à ampliação das visitações nas UCs. Coloca em debate como contribuir para que as Unidades alcancem seus objetivos sociais e ecológicos, incluindo a construção de novos padrões de normas sociais em relação aos territórios que se destinam proteger.
Ao todo, já foram realizadas 13 visitas monitoradas a Unidades do estado de São Paulo e uma para uma UC do Paraná. Cada visita é registrada em mídia online e as fotos inseridas no sistema GoogleMaps.
Caminhadas Históricas
Ao longo do ano passado, também foram realizadas seis Caminhadas Históricas no Parque Estadual Alberto Löfgren (PEAL), popularmente conhecido como Horto, na capital paulista. Noticiamos uma delas aqui no blog. O evento é uma iniciativa conjunta entre o Movimento Conservatio e o Museu Florestal Octávio Vecchi.
O trajeto da caminhada passa por prédios históricos do Parque, que tem posição marcante na história ambiental do estado de São Paulo e do Brasil.
Para o ano de 2019, estão previstas mais seis caminhadas no PEAL. A primeira acontece no próximo domingo, 10 de fevereiro, em comemoração aos 123 anos do Parque. Também está sendo planejada para o mês de junho uma Caminhada Histórica na Estação Experimental de Tupi, em Piracicaba/SP.
O Movimento Conservatio pretende contribuir para a compreensão e o apoio da sociedade às áreas protegidas brasileiras, proporcionando experiências que estimulem valores conservacionistas. A iniciativa vislumbra uma sociedade que conheça e cultue a história da conservação brasileira.
E você? Já visitou uma Unidade de Conservação? Tem alguma perto de casa? Então não perca mais tempo e venha conhecê-la.
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