Otransporte público de passageiros de Natal pode entrar em colapso até o dia 30 de maio, caso a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (STTU) não adote medidas que auxiliem as empresas do setor no enfrentamento da crise econômica causada pela pandemia da Covid-19. A projeção é do consultor técnico do Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos (Seturn), Nilson Queiroga.
“O colapso significa não conseguir honrar com compromissos contratuais, como o pagamento dos funcionários. Isso pode gerar a paralisação total dos ônibus na capital. O adiantamento do pagamento de maio, por exemplo, que deveria está acontecendo nesta quarta-feira (20), não ocorreu por baixa na receita”, revela Nilson, ao evidenciar que as empresas só garantiram os benefícios dos seus colaboradores até o mês de abril.
Os primeiros impactos deste cenário já apresenta reações entre os motoristas e cobradores do transporte público e danos à população natalense. Até esta quarta, a categoria realizou três paralisações na capital como meio de forçar uma reunião com o prefeito, Álvaro Dias, para tratar sobre as demissões em massa que têm atingido os funcionários dessas empresas e também sobre o cumprimento de garantias da data-base.
O consultor técnico confirmou que há alguns desligamentos no setor, mas não precisou a quantidade. Nilson Queiroga pontua que outras medidas, como redução da jornada de trabalho, também foram adotadas diante da redução da lucratividade das empresas.
Desde quando a pandemia chegou ao estado potiguar e medidas de isolamento foram adotadas para frear o contágio, o número de passageiros caiu 24%, segundo dados da Seturn. No dia 10 de março eram 302 mil pessoas utilizando o serviço, enquanto em 17 de maio o número passou para 73 mil. Nesta terça-feira (19), o quantitativo de indivíduos transportados reagiu e oscilou para 82.061.
Nilson Queiroga explica que esses números compõe o Índice de Passageiros por Quilômetro (IPK), que considera a quantidade de pessoas que adentram os transportes público a cada quilômetro percorrido. O resultado atual está em 108, abaixo dos 147 do mês de março.
Somado à este indicador, a Seturn utiliza um cálculo elaborado pela STTU para identificar o gasto das empresas de transporte por quilometro. De março para maio, o valor disparou de R$ 4,25 para R$ 6,92 (+62%). “A tarifa é o resultado da divisão do custo pelo IPK. Com a redução de usuários, a tarifa não cobre os gastos das empresas”, esclarece.
Diante dos resultados, o Seturn participou de uma reunião com a STTU na manhã desta quarta para protocolar um pedido formal de ajuda e discutir como a secretaria pode ajudar no socorro às empresas. “Sugerimos que a secretaria articule com a prefeitura meios de utilizar parte dos recursos do auxílio emergencial concedido pelo governo federal aos municípios no setor de transporte público, como é debatido em outras capitais”, comenta.
A Seturn recomendou, ainda, que a STTU proíba o passeio de passageiros que utilizam gratuidade e identidade estudantil nos horários de pico a fim de evitar o contágio pelo novo coronavírus e reduzir os custos. Para este grupo, a circulação com os benefícios seria no horário de menor fluxo, entre 9h e 16h.
Sobre o tema, a STTU informou que não existe nenhum posicionamento, mas que vem acompanhando diariamente a demanda de passageiros para desenvolver as estratégias necessárias.
Medidas como o pagamento da passagem apenas no cartão, para que motoristas e cobradores não tenham contato com dinheiro – um dos canais de transmissão da Sars-CoV-2; compras antecipadas por parte da prefeitura de passes-livre; e álcool em gel na porta de cada veículo também foram apresentadas para STTU.
“Além disso, seria oportuno retirar o Imposto Sobre Serviços (ISS) das empresas de transporte público, gerando uma redução de R$ 0,22 no valor da tarifa”, aconselha Nilson Queiroga à STTU, que anuncia analisar todas as propostas por meio de uma equipe técnica.