Procuradores criticaram ida de Moro para o Ministério da Justiça, diz site

Mensagens divulgadas pelo 'Intercept' mostram avaliações sobre nomeação de ministro; Lava-Jato não reconhece autenticidade

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Moro na cerimônia em que tomou posse como ministro da Justiça e Segurança Pública, em fevereiro Foto: Jorge William / Jorge William
Moro na cerimônia em que tomou posse como ministro da Justiça e Segurança Pública, em fevereiro Foto: Jorge William / Jorge William
O Globo

Novos diálogos divulgados neste sábado pelo site The Intercept Brasil indicam que procuradores do Ministério Público Federal (MPF), parte deles ligada à Lava-Jato, criticaram a decisão do ex-juiz federal Sergio Moro de aceitar o convite do presidente Jair Bolsonaro para comandar oMinistério da Justiça. Atribuídas também a integrantes da força-tarefa, as mensagens foram trocadas em grupos de conversa do aplicativo Telegram e mostram preocupação com um possível desgaste da imagem da operação com a ida do juiz para um cargo político. A Lava-Jato e procuradores citados disseram não ser possível atestar a veracidade das mensagens na íntegra.


Entre outros diálogos divulgados pelo Intercept, um deles indica que o coordenador da força-tarefa em Curitiba, Deltan Dallagnol, também teria demonstrado preocupação com a ida de Moro para o Executivo federal. A uma procuradora da República da 3ª Região, Janice Jascari, em um chat privado, Dallagnol conta que fez uma “ponderação” ao ministro sobre o convite para integrar o governo.

“Não acredito que tenham fundamento, mas tenho medo do corpo que isso possa tomar na opinião pública. Na minha perspectiva pessoal, hoje, Moro e LJ estão intimamente vinculados no imaginário social, então defender o Moro é defender a LJ e vice-versa. Ainda que eu tenha alguma ponderação pessoal sobre a saída dele, que fiz diretamente a ele, é algo que seria importante – se Vc concordar – defender…”, teria escrito Dallagnol, com quem Janice concordaria (“Nosso pensamento é convergente”, teria escrito a procuradora).

Outras mensagens mostram mais procuradores comentando notícias durante o período da nomeação de Moro. Em uma delas, o procurador José Robalinho Cavalcanti, ex-presidente da Associação Nacional de Procuradores da República, classifica como “erro crasso” o fato de a mulher de Moro, Rosângela, ter comemorado a vitória eleitoral de Bolsonaro em suas redes sociais.

Moro utilizou sua conta oficial no Twitter neste sábado para se manifestar sobre a reportagem. Ele escreveu que “se fosse verdadeira, (a matéria) não passaria de supostas fofocas de procuradores, a maioria de fora da Lava-Jato” e apontou que  “houve trocas de nomes e datas pelo próprio site que as publicou”.

A força-tarefa da Lava-Jato afirmou, em nota, que “reconhece como ilegítimo o material publicado, salientando novamente sua origem criminosa, alertando haver fortes indícios de edição de nomes de interlocutores e datas nas supostas mensagens”. Além de reafirmarem que a operação se baseia em provas robustas e denúncias consistentes, os procuradores disseram que a divulgação dos diálogos “não traz qualquer interesse público subjacente, mas apenas visa constranger as autoridades públicas mencionadas”.

Em nota, a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) manifestou “preocupação” quanto à divulgação de mensagens atribuídas a integrantes do Ministério Publico Federal com indícios de terem sido adulteradas e de serem oriundas de crime cibernético.

Na primeira versão divulgada pelo Intercept Brasil, um dos procuradores estava identificado como Angelo Goulart Vilella, afastado do MPF em 2017. Em seguida, o site corrigiu o erro e atribuiu os diálogos ao procurador Ângelo Augusto Costa.

A ANPR criticou o erro e afirmou que “alerta a sociedade sobre a impossibilidade de considerar como verdadeiras essas mensagens que expõem procuradores da Republica a risco em sua incolumidade física e moral”.  A associação também ressaltou que a Polícia Federal está investigando a prática de crimes cibernéticos contra integrantes do MP. “Aguardaremos, com serenidade, a conclusão das investigações para adotar as medidas judiciais cabíveis em defesa de nossos associados”, diz o texto.


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