VATICANO — O papa Francisco denunciou novamente, neste domingo, a lei do silêncio que imperava ao redor dos casos de abusos sexuais cometidos por padres e reiterou o pedido de “transparência, sinceridade e solidariedade” com as vítimas.
“Nos últimos tempos conseguimos ouvir com maior clareza o grito, tantas vezes silencioso e silenciado, de nossos irmãos, vítimas de abuso de poder, consciência e sexual por parte de ministros ordenados”, escreveu o pontífice em uma carta enviada aos padres por ocasião do 160º aniversário da morte do francês Jean-Baptiste-Marie Vianney, conhecido como Santo Cura de Ars.
“Como vocês sabem, estamos firmemente comprometidos com a aplicação das reformas necessárias para estimular, a partir da raiz, uma cultura baseada no cuidado pastoral de maneira tal que a cultura do abuso não encontre espaço para desenvolver-se e, menos ainda, perpetuar-se”, completou.
“Se no passado a omissão pode ter se transformado em uma forma de resposta, hoje queremos que a conversão, a transparência, a sinceridade e a solidariedade com as vítimas se converta em nosso modo de fazer a história e nos ajude a estar mais atentos ante todo sofrimento humano”, afirmou o papa
Diante de uma série de escândalos de abusos sexuais que mancharam a imagem da Igreja católica, o papa Francisco organizou em fevereiro uma reunião mundial de bispos sobre o tema e prometeu adotar ações concretas.
No início de maio, o pontífice modificou a legislação interna da Igreja para estabelecer a obrigação de que os padres denunciem qualquer suspeita de agressão ou assédio sexual.
Também obriga os membros da igreja a apontar qualquer tentativa da hierarquia de acobertar os abusos sexuais cometidos por padres ou religiosos.
Francisco se referiu aos padres que lamentam ser marcados por crimes que não cometeram.
“Muitos me manifestaram sua indignação pelo ocorrido, e também certa impotência, pois viveram o dano provocado pela suspeita e o questionamento, que em alguns ou muitos pode ter introduzido a dúvida, o medo e a desconfiança”, escreveu o papa.
“Sem negar e repudiar o dano causado por alguns de nossos irmãos, seria injusto não reconhecer tantos sacerdotes que, de maneira constante e honesta, entregam tudo o que são e têm para o bem dos demais”, completou.
“São inúmeros os sacerdotes que fazem de sua vida uma obra de misericórdia em regiões ou situações tantas vezes inóspitas, afastadas ou abandonadas, inclusive colocando a própria vida em risco”.
“Reconheço e agradeço vosso corajoso e constante exemplo que, em momentos de turbulência, vergonha e dor, nos manifesta que vocês seguem atuando com alegria pelo Evangelho”, concluiu o papa.Obrigado por apoiar o jornalismo profissionalA missão do GLOBO é a mesma desde 1925: levar informação confiável e relevante para ajudar os leitores a compreender melhor o Brasil e o mundo. Os assinantes têm acesso ilimitado a mais de 400 reportagens, artigos, fotos, vídeos e áudios publicados diariamente e produzidos de forma independente pela maior redação de jornal da América Latina. Muito obrigado por ter escolhido O GLOBO.