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Pais relatam medo de mandar filhos para a escola: “Não vou arriscar”

Pais de alunos das redes pública e privada de ensino não pretendem mandar os filhos para a escola caso o retorno às aulas seja confirmado para o dia 17 de agosto no Rio Grande do Norte. Entre os pais, o receio é que a volta às atividades escolares seja precipitada por não haver, segundo eles, segurança para as crianças contra o novo coronavírus.

A representante comercial Débora Sallem, de 29 anos, avalia que o retorno às aulas é necessário, principalmente na rede pública, que tem mais estudantes sem condições de realizar atividades à distância, por dificuldades de acesso à internet. Contudo, ela acredita que não há “segurança sanitária” para uma volta sem riscos.

“A torcida é para que o provável não aconteça. Que, com a reabertura, somada à enorme falta de bom senso da população, nossos números de contágio e morte continuem em queda. Vai ser um verdadeiro milagre”, afirmou, ao responder a uma enquete do Agora RN realizada com os leitores pelo WhatsApp.

No Rio Grande do Norte, as aulas nas redes pública e privada estão suspensas na forma presencial desde 18 de março. Desde então, alunos estão realizando algumas atividades pela internet.

Nas últimas semanas, o governo estadual intensificou o planejamento com vistas a uma possível retomada das aulas nas escolas. Em nota, a Secretaria Estadual de Educação, Cultura, Esporte e Lazer (Seec) disse que está liderando um debate com entidades representativas do ensino para discutir protocolos para um retorno seguro.

A previsão é que as aulas possam ser retomadas em 17 de agosto, mas a data ainda não está confirmada. Segundo a Seec, as escolas só vão reabrir quando houver segurança para tal.

“Todas as redes estão analisando as orientações internacionais e nacionais para providências a serem tomadas, criando condições necessárias, no sentido de organizar as escolas para quando for possível retornar”, explicou a pasta.

A preocupação de Dani Peixoto, de 44 anos, é principalmente quanto ao uso de máscaras – que é obrigatória em todo o Estado, inclusive para crianças (exceto as menores de 2 anos), como medida de prevenção do coronavírus. “Se nós, que somos adultos, ficamos incomodados com o uso constante da máscara, imagine as crianças, que não têm noção dos riscos? Elas iriam tirar a máscara e o risco de contágio seria enorme, sem contar que jamais eles iriam correr na escola usando máscara”, comenta. Para ela, as aulas só deveriam ser retomadas no ano que vem. “Faria dois anos em um”.

Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz, publicado nesta sexta-feira (24) pelo Agora RN, mostrou que a volta às aulas presenciais no Rio Grande do Norte representa potencial risco para 212 mil potiguares. O grupo é formado por idosos e os adultos com problemas crônicos de saúde que convivem diariamente com crianças e adolescentes em idade escolar (4 aos 17 anos).

Ainda de acordo com Fiocruz, a partir de um boletim sobre a retomada das atividades educacionais, a volta às aulas só poderá acontecer com a transmissão da Covid-19 controlada. A rede hospitalar deve disponibilizar pelo menos 30% de leitos disponíveis, aponta a instituição.

Além disso, a Fiocruz defende que é necessária a diminuição do número de mortes pelo menos nas últimas três semanas. Por fim, o sistema de saúde deve estar pronto para detectar, testar, isolar e tratar pacientes e rastrear contatos.

Na opinião de Marcelo Souza, de 32 anos, com alguns critérios, é possível retomar as aulas com segurança. “Se a escola ou faculdade oferecer todas as normas de segurança, como verificar temperatura corporal, oferecer álcool em gel e máscara e reduzir o número de alunos na sala, além de garantir o distanciamento, claro que sim”, afirmou.

Ele faz parte de uma corrente minoritária, contudo. A maioria dos pais ouvidos pelo Agora RN não avalia ser segura uma retomada neste momento.

O churrasqueiro Nilton da Silva, de 41 anos, é enfático. Ele é pai de um casal de 9 e 10 anos de idade e mora na Zona Norte de Natal. “Meus filhos não vão à escola este ano. Não vou arriscar, porque ninguém sabe como vai estar a pandemia daqui para a frente. Tem reduzido aqui, mas em outros estados está grave. Não concordo com a volta às aulas este ano”, finalizou.

A possibilidade de aumento na evasão escolar preocupa a Secretaria de Educação do Estado. “Estamos discutindo, entre os setores da pasta e com instituições e entidades ligadas ao ensino, quais serão as estratégias para que esse estudante permaneça estudando no cenário pós-pandemia. A pasta entende a preocupação dos pais e reafirma que só retomará as atividades presenciais quando houve as condições sanitárias para tal”, afirmou a pasta.

Protocolos na rede privada

Na rede privada, escolas de Natal têm adotado protocolos para a retomada. Nos colégios CEI (unidades Mirassol e Zona Sul), foi montado um comitê de gestão para elaborar e monitorar o cumprimento de medidas para evitar a contaminação pelo novo coronavírus no ambiente escolar, quando as aulas presenciais forem retomadas.

Os pilares da estratégia de retorno às aulas no CEI envolvem medidas como distanciamento físico, sanitização e higiene, monitoramento (controle e acompanhamento das condições de saúde dos alunos, professores e funcionários presentes nas escolas), acolhimento, aprendizado, comunicação e treinamento. Além disso, há outras medidas, como a adoção de protetores de acrílico.

O retorno se dará de forma gradual e com uma metodologia de ensino híbrido (presencial e não presencial)”, enfatiza a diretora Corina Amorim, que destaca ainda que as escolas vão disponibilizar treinamentos para os colaboradores.

Segundo a diretora pedagógica do Colégio Porto, Ana Cristina, é um momento para estar atento com os procedimentos e fiscalização das medidas. “Os nossos adolescentes são muito calorosos, gostam de estar juntos, e nós queremos conscientizá-los que, neste momento, ficar distante um dos outros é um ato de amor”, disse.

Após a confirmação da data oficial e compreensão de como será de fato este retorno, o Colégio Porto pretende realizar um manual que será encaminhado para as famílias dos alunos. “Esse material vai informar aos pais como será o retorno às aulas, quais as medidas sanitárias que serão adotadas, quais serão os procedimentos. Será um manual de como a família deve se portar diante desse momento, tanto pedagogicamente, quanto também em relação às medidas de educação sanitária que serão implementadas”, explica Ana Cristina.

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