Ceará-Mirim

Pacientes que se recuperaram contam como foi enfrentar a Covid

Na loteria em que se transformou a infecção pelo novo coronavírus, a sorte também tem seu peso, especialmente quando a luta é contra uma doença que pode evoluir rapidamente para uma síndrome multissistêmica, colocando o paciente entre a vida e a morte.

Judson Lobato, de 37 anos, engenheiro de Natal, por exemplo, é um dos que tiveram sorte.

Casado com uma enfermeira da unidade semi-intensiva do Hospital do Coração, que, como ele, contraiu a Covid 19, ele pode ser acompanhado por ela em seus 20 dias de internação.

A história de Judson, acompanhado de perto por médicos e enfermeiros competentes, numa ala exclusiva para pacientes de Covid-19, está entre as exceções para milhares de pessoas premiadas nesse jogo de azar.

História com final feliz, mas cujo enredo poderia ter sido bem outro, a do engenheiro serve de alerta para muita gente que ainda faz pouco caso de uma pandemia que está por trás de mais de 2 mil mortes no RN e acima de 105 mil no País.

Ou da história do cirurgião pediátrico Sérgio Melo, de 57 anos, que completou nesta quinta-feira (13) dois meses desde contraiu o novo coronavírus. Os 10 dias de internação dele no mesmo Hospital de Coração ainda renderam uma luta pela recuperação que ele trava todos os dias desde então.

Com 15 mortes de colegas pela Covid-19 nos últimos meses, Dr. Sérgio ainda não está completamente restabelecido. Precisou fazer desmame do corticoide que foi obrigado a ingerir continuamente por 30 dias, amargar semanas de insônia, ter problemas de pele e até queda de cabelo.

“Hoje, ainda não consigo subir dois lances de escada sem perder completamente o fôlego, coisa impensável antes da Covid”, completa.

Qual o conselho do médico?

“Fuja de aglomerações, prefira ficar longe dessa loteria”.

Judson, que no dia 12 de junho, uma sexta-feira, soube que tinha ganhado a sorte grande na loteria da Covid, começou com uma tosse renitente, dor de cabeça, dores no corpo e uma febre de 38,5 ºC durante todo o fim de semana.

Na segunda (15), já no hospital, uma tomografia revelou um comprometimento de 25% dos pulmões. Assim, de um dia para o outro. Um exame PCR mostrou o bilhete premiado. Considerado o “padrão ouro”, o RT-PCR é o exame que identifica o vírus e confirma a Covid-19.

Ainda jovem, com o melhor acompanhamento que alguém poderia ter, tomando corticoides e anticoagulantes para evitar a formação de trombos, Judson foi para casa, até voltar a tossir muito, sentir falta de ar e voltar e ser internado no dia 23 já sem sentir gosto de sal na comida e com comprometimento pulmonar de 50%

Hoje, ainda convalescendo, mas em “home care”, o engenheiro mecânico dá graças por não ter precisado de um respirador, embora tenha passado uma semana na máscara de Hudson, com o fornecimento máximo de 15 litros de oxigênio por minuto.

Ontem foi um dia muito importante para o consultor Semio Timene, que, depois de dois meses de ter contraído o novo coronavírus, finalmente voltou para a academia.

“Foi uma longa batalha contra uma doença incapacitante, que é muito diferente de pessoa para pessoa e da qual todos nós precisamos nos proteger muito”, aconselha.

A psicóloga clínica Edna Pinheiro, de 56 anos, que o diga. Dois meses depois de ter sido diagnosticada com o coronavírus, ela ainda sofre com formigamento nas costas do lado esquerdo, câimbra nas batatas das pernas ao acordar, dormência nos pés e mãos, descompasso no coração e cansaço ao menor esforço.

Ela diz que, embora a pressão arterial e o hemograma tenham se regularizado, nos últimos 30 dias antes do retorno ao trabalho, ela teve várias infeções bacterianas nas vias áreas superiores, nos olhos e na pele.

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