A Nike teve que cancelar a comercialização de uma nova versão de seu clássico modelo de tênis Air Force 1 por conta de um desentendimento com um povo indígena.
A multinacional norte-americana de roupas esportivas havia criado uma edição limitada do calçado que era descrita como sendo uma homenagem à ilha de Porto Rico. A ideia era que o lançamento acontecesse no dia 6 de junho, mas ele foi cancelado.
“Pedimos desculpas para a representação incorreta da origem do desenho do Nike Air Force 1 Porto Rico 2019. Como resultado, este produto não estará mais disponível”, disse a companhia em um comunicado.
Mas o que aconteceu?
Acusação de pirataria
Uma tradicional etnia indígena, a Guna, que vive principalmente em ilhas do Caribe na região do Panamá e Colômbia, denunciou a multinacional por usar no calçado um icônico desenho têxtil chamado “mola”. A mola é um bordado feito à mão em que se usam linhas e agulhas finíssimas para bordar telas coloridas com desenhos geométricos e de animais.
Os Guna alegam que a Nike usou os desenhos sem o consentimento deles ou uma consulta prévia.
A Festive Mural Appears On The Nike Air Force 1 Low For Puerto Rico pic.twitter.com/5qyh5ydYRe
— V O L T A G E™ (@voltagemty) May 15, 2019
Em um comunicado, a comunidade Guna disse que a ação da Nike era “pirataria”, porque a arte têxtil mola é protegida por uma lei nacional e considerada um patrimônio do povo panamenho. A arte é considerada propriedade intelectual dos Guna.
Os Gunas são um dos sete grupos indígenas do Panamá – que juntos representam quase 15% de uma população de quatro milhões – e vivem principalmente na região do Caribe. Eles são conhecidos principlamente por causa da mola, que é um de seus principais meios de subsistência.
A mola é usada em peças de vestimenta, quadros e objetos de decoração.
Aresio Valiente, advogado que representa a comunidade, disse em entrevista coletiva na terça-feira que a retirada do modelo não é suficiente e que eles buscam compensação.
“Já houve um dano porque foi utilizado nosso desenho, que faz parte da espiritualidade do povo Guna. Portanto, a empresa [Nike] tem que indenizar, porque foi uma cópia ilegal de nossos desenhos”, disse Valiente à AFP.
Belisario López, um líder tradicional da comunidade, disse em um comunicado que não se opõe à venda da mola, mas que incomoda que isso tenha sido feito sem consultá-los.
Vamos procurar o caminho possível para que a empresa Nike reconheça que está usando um projeto que nos pertence”, disse Lopez em entrevista à agência AP. “Não somos contra a nossa mola ser comercializada, mas sim que isso seja feito sem consulta prévia.”