Tudo que o presidente Donald Trump não precisava agora era de outro livro com potencial destrutivo para balançar ainda mais os alicerces de sua campanha para manter-se por mais quatro anos na Casa Branca. O novo petardo vem da sobrinha, Mary, que não apenas assegurou na Justiça o direito de publicação como antecipou duas semanas o lançamento.
Psicóloga e filha de Fred, o irmão mais velho do presidente, ela se apresenta como o único membro da família disposto a contar “muitas histórias angustiantes e obscenas” sobre o tio Donald. Trata-se, conforme explica a editora Simon & Schuster, da descrição de “um pesadelo de traumas, relacionamentos destrutivos e uma trágica combinação de negligência e abuso”.
Única sobrinha de Trump e avessa à trajetória que o fez presidente, Mary descreve-o baseada nos relatos que ouviu do pai morto em 1981: uma criança privada de amor, marcada para sempre por uma mãe doente e um pai frio e viciado em trabalho. E também nas cenas que presenciou, para tachá-lo como incapaz de crescer, aprender, regular suas emoções, moderar respostas ou absorver e sintetizar informações.
Previsto para sair na próxima semana, o livro atrai também pelo título sugestivo sobre o presidente que semeia a divisão do país: “Too Much and Never Enough: How My Family Created the World’s Most Dangerous Man” (Demais e Nunca o Suficiente: Como Minha Família Criou o Homem Mais Perigoso do Mundo).
Com 75 mil exemplares impressos, já lidera a lista dos mais vendidos da Amazon, superando outra obra explosiva, da mesma editora: “A sala onde tudo aconteceu” (The Room Where It Happened), do ex-conselheiro de Segurança Nacional John Bolton.
De formas distintas, o presidente tentou impedir, sem sucesso, a publicação dos dois livros. Desta vez, o agente de Trump foi seu irmão mais novo, Robert, que entrou na Justiça alegando que Mary havia quebrado um acordo de confidencialidade, que ela negou existir, ao escrever o livro.
A batalha legal prossegue e fomenta a expectativa do lançamento, antecipado para o dia 14. O momento não poderia ser mais inoportuno para o presidente, enredado na má condução da pandemia do novo coronavírus, que o fez perder o favoritismo na batalha pela reeleição. Por meio de seu advogado, Mary Trump acusa o tio de tentar silenciá-la numa campanha orquestrada contra a liberdade de expressão. A proibição de seu livro equivaleria à censura e violaria a Primeira Emenda.
Como escreveu Margaret Sullivan, colunista de mídia do “Washington Post”, quatro meses antes das eleições, os americanos merecem saber tudo que é possível sobre o presidente. Ainda que as revelações bombásticas prometidas por sua sobrinha não alterem qualquer movimento em sua base eleitoral.