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Obama: ‘Se há corrupção e pagamento de propina, não há bom governo nem capitalismo que funcione’

Obame e Pelé em São Paulo Foto: Reprodução do Twitter

Por  Leo Branco | O Globo

Quem esperava ouvir o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama falar sobre Donald Trump, os problemas da política internacional, a ascensão da direita na Europa ou os rumos seguidos por Jair Bolsonaro no Brasil se frustrou. Durante palestra num evento de inovação digital em São Paulo , na tarde desta quinta-feira, Obama fez uma ode ao poder do capitalismo, do livre mercado, da educação e de governos bem geridos para atacar os grandes desafios da Humanidade, como a crescente desigualdade econômica e o aquecimento global.

— Não pode ter mercado funcionando direito sem ter um governo que funciona, sem estado de direito, sem transparência. Se há corrupção e uma empresa precisa pagar propina, não há bom governo nem um capitalismo que funcione — disse o ex-presidente americano, que participou de um bate-papo de 50 minutos no Vtex Day, evento promovido pela empresa de tecnologia Vtex no SP Expo, pavilhão de eventos na zona sul de São Paulo.

Diante de uma plateia de 10 mil pessoas, na maioria empreendedores, Obama abriu o discurso lembrando sobre como uma professora da escola onde estudou no Havaí aos 10 anos conseguiu inspirá-lo a seguir adiante com os estudos.

— O poder de inspirar uma criança é um dos maiores presentes que um professor pode dar. Um mau professor pode te ensinar álgebra e outras coisas. Mas grandes professores conseguem te ajudar a identificar as coisas que impedem você de ser aquele que você quer ser — disse.

Na primeira fila da plateia estavam professores da rede pública convidados pela organização do evento a assistir à palestra.

O ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama discursou para uma plateia de 10 mil pessoas em evento de inovação digital em São Paulo Foto: Leo Branco / Agência O Globo
O ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama discursou para uma plateia de 10 mil pessoas em evento de inovação digital em São Paulo Foto: Leo Branco / Agência O Globo

Instado a falar sobre o seu papel hoje no mundo, Obama disse querer treinar uma nova geração de líderes políticos, algo que ele considera essencial para reduzir desigualdades em países como o Brasil.

— Quero ajudar jovens a empoderar suas comunidades para mudar o mundo. No Brasil há muita gente que poderia estar fazendo coisas incríveis se tivesse a chance. Morei num país que apesar das desigualdades crescentes pôde me dar a educação necessária para ser presidente. Prover serviços básicos às crianças não é caridade, é o essencial para garantir os direitos humanos básicos — disse o ex-presidente que citou Cingapura e Finlândia como países que conseguem prover a educação necessária para criar oportunidades às suas gerações mais jovens.

Obama abordou ainda os momentos difíceis à frente da Presidência dos Estados Unidos, cargo que ocupou entre 2009 e 2017. O dia mais duro para ele foi confortar a familia de uma criança assassinada em sala de aula. Ele aproveitou para criticar as leis de armamento dos Estados Unidos:

— As leis de armas nos EUA não fazem sentido, as pessoas podem comprar qualquer tipo de armamento nas lojas, pela internet… Eu tive que falar com pais de crianças mortas e eu não pude nem prometer que isso mudaria porque não poderia mudar as leis. Esse foi o dia mais frustrante do meu governo — disse, sob fortes aplausos da plateia.

Perguntado sobre do que mais se orgulha, Obama brincou dizendo que “eu meio que salvei o mundo”, numa referência à atuação para recuperar a economia americana após a crise de 2008. O ex-presidente lembrou ainda o sistema de saúde Obamacare, que garantiu plano de saúde a 20 milhões de americanos,  e dos esforços para os EUA assinarem o Acordo de Paris, em 2015, contra o aquecimento global.

— Apesar de meu país ser hoje o único que não está no Acordo de Paris, criamos as ferramentas para o país ajudar a salvar o planeta nas próximas gerações — disse.

Encontro com Pelé

Antes de participar da palestra, o ex-presidente dos Estados Unidos se encontrou com Pelé em um hotel da capital paulista. “Falamos sobre como trabalharmos juntos para fazer o mundo melhor. Feliz por estarmos no mesmo time”, escreveu o ex-jogador em sua conta no Twitter.

Semanas depois de uma operação para a retirada de cálculo renal, Pelé posou sorridente para uma foto apertando a mão de Obama, e a imagem foi compartilhada pelo tricampeão mundial na rede social.

Essa foi a segunda vez que Obama visitou o Brasil desde que deixou a Casa Branca. Em 2017, ele participou de um evento organizado pelo jornal Valor Econômico, do Grupo Globo, e se encontrou com jovens lideranças políticas.


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