Natal – A empresária e cabeleireira Tatiana Van Campo voltou ao seu salão de beleza, localizado no bairro Ponta Negra, Zona Sul de Natal, na noite de sexta-feira passada (24) para buscar uma bolsa que tinha esquecido. Antes mesmo de entrar, deu de cara com uma moradora de rua comendo lixo na calçada, bem em frente ao seu estabelecimento. Comovida com a cena, Tatiana ofereceu abrigo e comida à mulher, de nome Ana Paula, uma transexual de aproximadamente 40 anos, que fez um pedido especial: queria fazer a sobrancelha. Em troca, ela oferecia limpar o salão.
Tatiana Van Campo e duas funcionárias – Jéssica Mendes e Lílian Soraya – fizeram mais. Três dias depois, na segunda-feira (27), Ana Paula reapareceu e ganhou da equipe uma transformação completa de beleza. A história foi compartilhada pela dona do salão na internet e viralizou como um ato de solidariedade.
“Eu nunca a tinha visto e aquela cena me doeu muito. Foi muito triste. Ela estava mal, suja, e eu não podia deixar aquilo passar batido. Foi mais forte que eu”, lembra Tatiana sobre quando a acolheu pela primeira vez.
Enquanto jantavam no salão de beleza no primeiro encontro entre elas, Ana Paula contou que mora na rua há mais de 25 anos, desde que foi expulsa de casa por sua orientação sexual. “Nós fizemos a transformação para tentar diminuir um pouco a dor dela”, conta Tatiana. “Quando estava indo embora, ela sorriu e externou uma gratidão tão grande por nós”, lembra.
O salão de beleza de Tatiana Van Campo tem em uma classe mais elitizada o seu público-alvo. E a transformação de Ana Paula aconteceu com o local em pleno funcionamento. “Na hora que ela entrou, algumas clientes olharam, ficaram com aquela cara meio de surpresa, algumas até pensaram que fosse um assalto. Mas logo depois todas elas se contagiaram com a transformação”, explica Tatiana. “Em nenhum momento eu pensei que isso de alguma forma pudesse afastar a clientela. Nem passou pela minha cabeça”, diz.
A surpresa também foi grande para a própria Ana Paula, que desconfiou ao ser presenteada com esse gesto. “Ela pegou na minha mão e me disse que éramos anjos e perguntou se poderia me abraçar. Nos abraçamos bastante”, diz.
Tatiana não queria divulgar a história, à princípio, mas foi convencida por uma funcionária a fazer. “Tenho uma funcionária que também é transexual e que achou importante que divulgássemos a história, como forma de mostrar essa história pessoal e incentivar outras pessoas a fazerem coisas parecidas”, diz. “A gente sentiu uma onda muito grande de amor com a Ana Paula. Queremos fazer isso mais vezes, com outras pessoas”.