Fernando Mineiro tem a cara do PT do Rio Grande do Norte, partido que ele ajudou a fundar no estado juntamente com Pedro Silvério e outros companheiros. A sua militância começou como professor e sindicalista, membro da Associação dos Professores (APRN – hoje Sinte/RN), no início da década de 80. Os cargos eletivos foram consequência.
Mineiro foi o primeiro vereador do PT eleito em Natal em 1988, cargo que renovou mais três vezes em 1992, 1996 e 2000, e depois cumpriu quatro mandatos de deputado estadual eleito em 2002, 2006, 2010 e 2014. Nas eleições seguintes, em 2018, tentou chegar à Câmara dos Deputados, mas ficou na primeira suplência com 98.070 votos.
Agora, ele se prepara para ser candidato outra vez a deputado federal, devendo se desincompatibilizar do cargo de secretário de Projetos e Metas do Governo do RN.
No “Cafezinho com César Santos”, Mineiro confirma a pré-candidatura, mas é sobre as alianças que o PT tenta costurar que ele concentra as suas respostas. De pronto, afirma que é importante para a governadora Fátima Bezerra ter o apoio do MDB e PDT, mas descarta a possibilidade de dois Alves na chapa majoritária. “Essa questão está decidida”, garante.
Há uma divisão dentro do PT, tornada pública, em relação a possível aliança da governadora Fátima Bezerra com o ex-prefeito Carlos Eduardo, do PDT, partido que enfrenta o PT no plano nacional. O senhor está em qual lado?
Não há divisão dentro do PT. O que há são visões diferentes desse processo. Mas, depois que o PT decide, todos nós acataremos as posições. Às vezes, as pessoas que não conhecem essa metodologia interna ficam pensando que o PT está dividido. Não, o PT está unificado, numa questão muito importante: primeiro, unificado na prioridade de eleger Lula presidente; segundo, na prioridade de eleger a governadora Fátima. Portanto, o que existem são visões diferentes sobre a questão das alianças. Quem me conhece sabe que eu sou defensor das alianças, eu sempre militei no PT ao lado do Lula, seguindo a orientação e o pensamento do Lula, que sempre defendeu alianças. No Brasil, não tem um partido que tenha maioria sozinho na sociedade, é preciso fazer aliança, é preciso entender a pluralidade da sociedade brasileira e dialogar para fazer as transformações.
O senhor não acha, porém, que a formação de alianças tem limites? Se aliar com quem até pouco tempo era chamado de golpista não seria um erro?
Às vezes, eu fico até brincando: se eu pudesse saía só com o PT e digo até mais viu, nem com todo mundo do PT. Mas não é isso que se trata, se trata de um país, de um estado, ninguém governa sozinho. A discussão não é se ganha ou não ganha, porque pode até ganhar sozinho uma eleição, mas não se governa sozinho. A governadora hoje tem uma aliança na Assembleia Legislativa com o PSDB, com o MDB, com o PL, com o Pros, com todos os partidos que compõem a base. Isso é uma aliança. Quando um ou uma deputada traz uma emenda para o estado ou para o município, ela tá fazendo uma aliança também. Aliança é uma ação natural da política. O que existe hoje dentro do PT é uma diferença sobre essa questão que do meu ponto de vista é um debate muito interno do PT, mas não tenha dúvida, depois que o PT decidir, como diz o querido Lula, todo mundo abraça rindo, no sentido que nós vamos com toda garra, com toda alegria para decisão. Eu historicamente defendo as alianças.
Há um recorte encaminhado dentro do partido de como será a aliança para eleição 2022?
Não tenho participado de decisões sobre a questão de cargos, dos nomes que irão compor a nossa chapa. Essa discussão é da orçada da direção do PT, no caso específico da governadora Fátima, do senador Jean Paul Prates, do presidente Lula e da presidenta nacional Gleisi Hoffmann e do presidente estadual Júnior Souto. Eu sou apenas um filiado e vou cumprir o que for deliberado. Mas, o PT vai construir uma aliança forte para eleger o presidente Lula e reeleger a governadora Fátima, pode ter certeza.
É possível a chapa da governadora Fátima Bezerra ter dois Aves, um como candidato a vice-governador, indicado pelo MDB, e outro ao senado, indicado pelo PDT?
Olha, eu acho que essa questão já está superada. Pelo que eu tenho acompanhado e tenho debatido em conversas com a governadora, com a direção do PT, com o Raimundo Alves que tem conduzido o processo com muita clareza, essa questão de nomes está encaminhada. A nossa chapa majoritária não terá dois Alves, já está resolvido. MDB e PDT são partidos importantes, assim como todos os outros que apoiam o governo Fátima na Assembleia Legislativa. O importante é juntar todos, organizar, somar, para enfrentar a tarefa de derrotar o bolsonarismo, que é o inimigo principal do Brasil. Temos que derrotar o bolsonarismo nacional e o bolsonarismo estadual, essa é a minha principal tarefa, a minha principal função e onde eu vou focar as minhas energias nesse objetivo. Portanto, nós queremos, sim, a participação do MDB, queremos a participação de todos os partidos que possam somar conosco.
MDB e PDT se posicionaram até pouco tempo contrários ao governo do PT no RN, com críticas duras, expondo as suas diferenças. É possível acomodar os contrários no mesmo palanque?
Há diferenças entre nós e esses partidos que são conhecidas, não quer dizer que as nossas diferenças serão escondidas, que serão colocadas debaixo do armário, nada disso. O que está tratando aqui é o seguinte: nós temos um governo estadual que é importante para sociedade, que deve ser reeleito e que, para isso, a gente precisa fazer uma somação para o bem da população Potiguar. E temos um nacional a ser reconquistado. É disso que se trata. Isso vai ser em cima de quê? Fulano que eu achava assim ou assado no passado, eu vou mudar de opinião? Claro que não. Vamos tratar de um programa de governo, o que nós vamos defender para desenvolvimento do estado, para educação, saúde, agricultura, segurança. É isso que nós estamos trabalhando. Portanto, as alianças são necessárias de uma forma transparente em cima do programa de governo. O que eu achava de Carlos Eduardo continuo achando, o que eu achava dos Alves continuo achando, assim como eu tenho certeza que eles também acham de mim. Mas não é essa a discussão, não é uma coisa pessoal. A discussão é política em cima de um programa de governo.
Partindo desse princípio da necessidade de aliança com outros partidos, o senador do PT Jean Paul Prates vai ficar fora da chapa majoritária?
O que eu tenho ouvido do senador Jean é que a prioridade dele também é o palanque de Lula e o palanque de Fátima. Tenho certeza que essa é a decisão dele. Jean é um dos principais senadores do Brasil, para não dizer o principal. Veja a agenda do Jean hoje, entre tantas outras importantes: a questão do combustível. Essa agenda é central em toda a cadeia produtiva, em toda economia, é a referência. Jean é uma revelação na política importante, ele está muito envolvido também nessa questão. Agora, ele tem leitura em relação á formação de alianças da governadora Fátima. Jean já falou pra mim, já falou para Lula, já falou para Fátima, que a prioridade dele é a recondução da governadora. O debate às vezes há um estremecimento aqui, um estremecimento ali, um coloca uma fala de uma maneira, outro coloca uma palavra do outro, mas essa animação faz parte da política, digamos assim. Mas, ao final vai concluir que os nossos objetivos são os mesmos, nós não temos objetivos diferentes, todos nós temos o mesmo objetivo. Eu gostaria de ter outro posicionamento que pudesse ter o tipo de voto óbvio, mas não se trata disso, se trata de uma discussão de uma tática eleitoral para dar mais segurança, para fortalecer o projeto em comum. Acho que os nossos líderes, repito Fátima, Jean, Lula, Gleisi, Júnior Souto, terão sabedoria para nos conduzir nesse processo.
O senhor vai se desincompatibilizar do governo para ser candidato nas eleições deste ano?
Vou sair no final de março para ser candidato, está definido. Todo o Rio Grande do Norte sabe que eu fui eleito em 2018, fui diplomado, mas houve uma interferência no Tribunal Superior Eleitoral, onde um ministro deu uma liminar e colocou outra pessoa no meu lugar. Eu fico brincando que eu tenho, digamos assim, duas indignações, uma porque não estou no mandato e a outra porque quem está lá sempre vota contra o povo. Eu ficaria assim meio consolado, digamos, se o deputado que tomou o meu mandato estivesse a favor do povo, mas não, ele está junto com o bolsonarismo, usando os recursos do orçamento secreto, que não trouxe para Mossoró. Ele não apoia a Prefeitura, se preocupa em manejar as verbas do orçamento secreto pra fazer a velha politicagem. Eu sairei sim candidato a deputado federal para reafirmar o meu mandato. Por outro lado, me sinto muito feliz porque estou com a professora Fátima, ao lado dos meus colegas e das minhas colegas de governo, fazendo um grande trabalho. Eu tenho a felicidade de conseguir resolver todos os problemas que encontrei no projeto Governo Cidadão. Estamos conduzindo obras importantes, inclusive para Mossoró e para região, como é o caso do Hospital da Mulher. Então, tomaram o meu mandato, mas por outro lado, estamos aqui aprendendo muito. É a nossa primeira vez como gestor e acho que estamos cumprindo à altura a expectativa que a governadora Fátima e o vice Antenor Roberto tinham comigo quando me convidaram para assumir esse cargo no governo.
O senhor declarou que faz parte do bloco que acha que a disputa eleitoral deste ano será muito dura para o PT, tanto o plano nacional no plano local, mas trazendo para o plano local esse entendimento leva em conta uma possibilidade de candidatura ao governo de Ezequiel Ferreira de Souza?
Ele e qualquer outro que seja o candidato do bolsonarismo no Estado será uma campanha dura. É o meu ponto de vista. Por quê? O bolsonarismo tem uma base cultural que é maior do que o próprio Bolsonaro. O Bolsonaro foi um instrumento do mal pra tirar do armário toda perversidade da política brasileira, essa é a minha tese. Eu vou repetir aqui, quero dizer muito claramente, o bolsonarismo é a perversidade na política, da indiferença com a vida, olha como esse povo tratou a pandemia e ainda trata, olha como esse povo trata as mulheres, como o bolsonarismo trata a governadora Fátima. O Bolsonaroismo é valente para atacar nas redes sociais, para colocar mentiras nos esgotos da política. O bolsonarismo deu visibilidade ao que há de pior na sociedade brasileira e isso existe na sociedade potiguar também. Você acompanha a política há muito tempo, certamente nunca viu na história contemporânea brasileira esse tipo de disputa tão perversa, baseada em tanta mentira como agora. A minha tese é que isso será muito duro, porque eles não têm limite, porque eles não têm ética, porque eles não têm regras.
É por isso que senhor adverte ao PT descer do salto alto?
Eu tenho dito isso porque entendo que vai ser duro o debate nacional, o Lula não tá eleito ainda; precisamos fazer um grande trabalho. Fátima não está reeleita, vamos ter uma campanha dura. Agora, nós estamos passados na casca do alho, Fátima tem uma história, está fazendo um governo que nos enche de orgulho. Nós temos realizações do governo, temos o que mostrar, temos o que debater. Tiramos esse estado do caos e, para o bem da sociedade, a gestão precisa continuar. Por isso, fico muito feliz quando encontro alguém que votou no Bolsonaro e vem para o nosso lado, porque se a gente for ficar só com quem votou no PT em 2018, não vamos ter maioria, não é verdade? É preciso trazer para o nosso lado quem foi contra a gente em 2018.
Vamos falar sobre o Hospital da Mulher de Mossoró. A previsão é de o governo concluir a obra em junho deste ano. Será cumprida?
Essa é uma obra que me enche de orgulho. E quero aproveitar para registrar a importância de ter uma equipe que nos ajudou a resolver todos os problemas que encontramos nessa obra. Essa ação não foi individual, eu apenas coordenei a equipe do Governo Cidadão junto com a Secretaria de Infraestrutura, que por sinal é tocada por doutor Gustavo Rosado, junto com a Secretaria de Saúde e todos os órgãos envolvidos. Essa obra começou a ser licitada no governo Rosalba Ciarlini, em 2014, depois foi seguido pela gestão Robinson Faria. Recebemos a obra com vários problemas, encontramos um nó, a obra estava praticamente perdida, o projeto estava errado, não tinha drenagem, não tinha climatização, uma série de problemas. Eu passei dois anos para resolver todas essas questões e eu tenho o maior orgulho talvez de ter conseguido organizar. As pessoas não têm noção do que está sendo construído, a importância do hospital para a saúde materno-infantil. Estamos com 60% da obra concluída, tocando a compra de equipamento, com parte da licitação já feita. É um investimento de mais de 120 milhões quando tiver toda construída e equipada. Temos vistoriado a obra com frequência e afirmamos que a parte construída será concluída em junho deste ano.
Quando o hospital iniciará o funcionamento de forma efetiva?
O hospital terá um impacto fundamental na saúde da mulher e nós estamos conseguindo fazer essa realização, com apoio de toda a nossa equipe e de instituições como o Tribunal de Contas, porque essa é a primeira obra do Brasil a ter um TAG (Termo de Ajustamento de Gestão), aprovada pelo TCE para garantir a sua retomada. É uma obra acompanhada pelo Corpo de Bombeiros, Caern, Cosern, Prefeitura de Mossoró. A nossa Uern (Universidade do Estado do Rio Grande do Norte) também está envolvida. Estamos falando do maior investimento do Governo do Estado em Mossoró dos últimos anos. Com certeza vai impactar a saúde do estado. Quanto à previsão do funcionamento efetivo, acredito que a partir de 2023, valendo ressaltar que o funcionamento escalonado por uma obra dessas, que contará com mais de 120 leitos, não terá a sua estrutura funcionando de uma só vez. Portanto, Mossoró terá uma obra que vai marcar a história do nosso governo e todo o Rio Grande do Norte, pois será a virada na saúde pública do estado. E eu não tenho nenhuma dúvida, que daqui a cinco ou seis anos, aquela região onde está sendo construído o hospital vai se tornar um polo de oferta de serviços de saúde aqui em Mossoró. Pode escrever.