Governo Bolsonaro erra bastante, mas também acerta, diz Tabata Amaral

Acertos em infraestrutura e economia
Erros em Educação, Meio Ambiente e mulheres
Se diz decepcionada com Ciro e PDT
Só analisa convites se for mesmo expulsa

Por Mateus Maia - Poder 360

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Tabata Amaral (PDT-SP) concedeu entrevista ao Poder360 no estúdio do jornal digital, em Brasília
Tabata Amaral (PDT-SP) concedeu entrevista ao Poder360 no estúdio do jornal digital, em Brasília

A deputada Federal Tabata Amaral (PDT-SP) está em seu 1º mandato e enfrentou duras críticas quando decidiu contrariar a orientação de seu partido na votação da reforma da Previdência. Ao Poder360, ela disse que acha adequado analisar ponto a ponto as proposições do Executivo, que há acertos na gestão Bolsonaro, mas que os erros são muito maiores e em áreas mais sensíveis a ela.

Assista à íntegra da entrevista (42min04seg):

A congressista avalia que há pontos positivos no governo, como no Ministério da Infraestrutura, comandado por Tarcísio de Freitas, e também a aprovação da reforma da Previdência.

“A gente tem coisas boas, como o que aconteceu com a reforma da Previdência. A reforma veio muito ruim do governo, mas ela aconteceu, e ela segurou bastante pra gente ter condições de pagar aposentadoria ano que vem, por exemplo”, disse.

Para ela, contudo, os erros da gestão Bolsonaro ainda custam caro. Ela se coloca como oposição ao governo, mas não acredita que isso lhe permite simplesmente ir contra tudo que este propõe. A deputada diz que apoiará medidas que achar corretas vindas do Executivo e irá tentar mudar o que considerar errado.

“O governo erra ao não entender que a eleição acabou, o governo erra ao não dialogar com seus opositores, a não dialogar com quem pensa diferente, o governo erra ao travar uma guerra ideológica”, afirma.

Outro ponto que Tabata ressalta é que há pouca efetividade em criticar o governo apenas por criticar. Define-se como uma “otimista impaciente”, e tenta dialogar com diferentes atores políticos para conseguir as mudanças que acredita. Foi o que fez com a Previdência, segundo ela, articulando com a bancada feminina e da educação.

“Enquanto a gente está aqui marcando posição no plenário e esbravejando e falando um monte de coisa, meus amigos estão todos desempregados onde eu moro”, disse a deputada, que vem da zona sul de São Paulo.

As críticas mais duras à atuação da congressista começaram quando ela decidiu que apoiaria a proposta de reforma de aposentadorias. Isto aconteceu depois de o texto ser alterado pelos deputados, que retiraram trechos que afetavam o BPC (Benefício de Prestação Continuada) e a aposentadoria rural, entre outros itens.

Outros 7 deputados do PDT contrariaram a orientação da sigla de serem contrários ao texto. O ex-ministro e candidato à Presidência em 2018 pelo partido, Ciro Gomes, chegou a ironizar a situação e questionar: “Por que ela não vai para o MBL?”, referindo-se a Tabata.

Sobre o pedetista, a quem apoiou na corrida presidencial, Tabata diz que ele sabia de sua posição de que o país precisava reformar a Previdência. Ela conta inclusive que ele pensa isso também, já que defendia uma reforma durante a campanha.

“Então, quando ele [Ciro] inventa um monte de coisas sobre mim, descarta minha trajetória, me ofende, não porque ele pensa diferente de mim, porque no fundo eu não acho que ele pensa muito não, a [reforma] que a gente aprovou é muito parecida com a que ele defendia, mas porque eu não segui a orientação de uma pessoa…Eu acho que isso, eu não sei, talvez ele não acreditasse tanto assim que eu era capaz e que eu era inteligente para tomar decisões, estudar e etc”, afirmou.

A congressista alegou que o partido se posicionou apenas sobre o texto enviado pelo governo, que ela também era contrária. Depois disso, segundo ela, não houve outras reuniões para deliberar sobre a versão que foi votada. A situação, conta, provocou uma decepção em relação à sigla.

“É o partido que falou de uma proposta de reforma da Previdência na campanha. Então, de certa forma, eu me decepcionei porque eu acreditei muito nisso. O social pra gente é mais importante, mas fiscalmente responsável”, completou.

O partido ameaçou expulsar os deputados que fossem contra sua orientação, mas, até agora, eles foram apenas suspensos pela sigla. O caso repercutiu bastante e ganhou a internet à época da votação da reforma. O nome da Tabata Amaral chegou a estar entre os mais buscados junto com os termos “como votou segundo o Google.

A deputada conta que desde então tem recebido muitos convites formais e informais para se juntar a outros partidos políticos. A resposta, explica ela, é sempre a mesma: “Eu não fui expulsa do partido. Então eu preciso que o PDT diga se vai me expulsar ou não”.

Só aí, se fosse de fato expulsa, ela aceitaria sentar e conversar sobre as propostas de outras siglas. Tabata reafirma que não traiu seu partido e que escolheu estar no PDT. “Eu acho que o PDT tem que entender se eles me querem no partido ou não”, disse.

EDUCAÇÃO

A principal bandeira levantada pela congressista é a educação. Tabata, inclusive, viralizou na internet em março deste ano quando confrontou na Comissão de Educação da Câmara o então ministro Ricardo Vélez. Este, por sua vez, foi demitido do cargo por Bolsonaro abril depois de uma série de polêmicas na pasta.

O substituto, Abraham Weintraub, também já teve atritos com a deputada, que ameaçou processá-lo por divulgar seu telefone celular em maio. A congressista não soube avaliar se houve piora no MEC (Ministério da Educação) com a troca, mas é enfática em dizer que não vê uma melhora.

“Eu quero um ministro que não queira ideologia na educação, mas que olhe para o que importa. Então quando eu vejo um ministro gravando um vídeo com guarda-chuva, espalhando fake news, falando mal da sociedade, de núcleos da sociedade, falando mal de presidente de outro país, minha primeira coisa é: ‘Mas será que ele não tem nada mais sério para falar?’”, afirmou.

Sobre o programa Future-se, proposto pelo ministro, a deputada diz que há dificuldade em avaliar a medida porque ainda não foi amplamente detalhada. A falta de entendimento sobre quais termos seriam utilizados para realizar as mudanças é que preocupam Tabata.

“Porque a ideia pra mim faz sentido, eu quero as universidades com mais autonomia, com mais autonomia pra se financiar, com mais liberdade pra fazer diversas parcerias”, disse.

DIREITA E ESQUERDA

Eleita em 1 dos pleitos mais polarizados ideologicamente dos últimos anos, Tabata não vê espaço na política para não se posicionar. Sua posição é de preocupação com o social, a desigualdade, mas com responsabilidade fiscal. Ela afirma, porém, que isso não deve impedir que se tome essa ou aquela decisão.

“Eu não acho que nesse mundo tão complexo a gente consegue olhar para todos os posicionamentos de uma pessoa e falar: é de esquerda, é de direita”, falou.

Ela pondera, contudo, que é possível dizer o espectro político de uma pessoa analisando a média de suas opiniões. A ideia da deputada é que o debate público ganhou muito mais complexidade que na época que os termos “direita” e “esquerda” foram inicialmente utilizados.

“Acho que no todo a gente consegue colocar as pessoas [em esquerda e direita], mas se alguém falar: não, eu sou de centro-esquerda então não posso pensar assim. Eu acho que isso é uma coisa bastante estúpida”, afirmou.

QUIZ DO PODER

A deputada federal foi questionada se era contra ou a favor de temas significativos.

  • Flexibilização do aborto: contra“Se a gente não aprofunda o debate com a população eu acho que o que a gente tem hoje atende. A legislação atual”.
  • Liberação do consumo recreativo de drogas mais leves: neutra“Esse é um assunto que eu iria pros estudos”.
  • Autonomia política e operacional ao Banco Central: a favor“100% a favor”.
  • Liberação do porte de armas: contra“100% contra”.
  • Escola sem Partido: contra“100% contra”.
  • Sistema de capitalização: a favor“A favor desde que seja acima de um teto. Então eu defendo por exemplo que, pra baixo de 4 salários mínimos seja o que a gente tem hoje, não dá pra colocar esse risco. Pra quem recebe salários altos, acho que pode ter capitalização”.
  • Maioridade penal: contra“Pra mim tem que ficar em 18 anos. E só pra quem é da periferia e conhece isso muito bem se a gente reduz, o crime começa a recrutar os meninos mais novos”.
  • Imunidade tributária a igrejas: contra.

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