Jornalista potiguar com décadas de atuação principalmente na cobertura política, Gerson de Castro defende um forte combate à disseminação de notícias falsas, especialmente no ambiente eleitoral. Ele lembra que campanhas recentes já comprovaram que espalhar informações pelas redes sociais pode definir eleições – daí a importância de repudiar as fake news, que podem desconstruir adversários com base em inverdades.
Gerente de Rádio e TV da TV Assembleia do Rio Grande do Norte, Gerson de Castro conta nesta entrevista ao Agora RN que aprova o esforço do Congresso Nacional para criar uma legislação que coíba a distribuição de informações falsas no ambiente virtual e opina que a eleição de 2020 será uma das mais digitais da história.
Ele fala também sobre os impactos da pandemia do novo coronavírus e os reflexos para o futuro, sobretudo para as redações. Confira:
AGORA RN – Como analisa o atual debate no Congresso Nacional em torno de uma lei para dificultar a disseminação das fake news?
GERSON DE CASTRO – A discussão é fundamental para o aprimoramento da nossa democracia. Na ausência de uma reforma política de verdade, que nos dê uma legislação que impeça casuísmos e mudanças de regras a cada pleito, precisamos aperfeiçoar o processo eleitoral. A divulgação de informações via redes sociais ganha um peso cada vez maior na nossa sociedade e, com isso, aumenta a cada eleição a influência das chamadas novas mídias para a construção de candidaturas, desconstrução de adversários e definição dos pleitos.
AGORA – Qual pode ser o impacto das fake news sobre o processo eleitoral?
GC – Os resultados da campanha eleitoral dos Estados Unidos em 2016, a campanha do Brexit na Europa e a campanha presidencial de 2018 que levou à eleição de Jair Bolsonaro no Brasil mostram o alcance do bom ou mau uso das redes sociais. Não quero entrar no mérito no que diz respeito à discussão sobre montagem do chamado “gabinete do ódio” nem sobre a investigação que levou o Facebook a cancelar um considerável número de contas e perfis, mas o fato é que a disseminação em larga escala de fake news contamina o processo eleitoral, ajuda a destruir reputações, a desconstruir candidaturas e precisa ser combatida e punida, parta de onde partir.
AGORA – Como jornalista, como vê os efeitos dessa crise sanitária que vivemos?
GC – A pandemia do novo coronavírus nos pegou de calças curtas, como diriam nossos pais e avós. O sistema público de saúde vive há muito tempo uma situação caótica. E esses problemas nem sempre eram decorrentes apenas de investimentos, mas também de erros na gestão, da corrupção e de outras mazelas. Não bastasse a gravidade do que já vínhamos enfrentando, a pandemia nos encontrou num ambiente político bastante polarizado, num debate sem fim entre direita e esquerda. E logo ficou claro que, sem uma atuação conjunta e ordenada, a pandemia iria causar mais estragos e permanecer mais tempo entre nós.
AGORA – Quais as lições deste momento?
GC – Caminhamos de forma acelerada para atingir 80 mil, 90 mil, talvez até mais de 100 mil mortos. Espero que possamos tirar lições, deixar a política eleitoral de lado e aprender que precisamos fortalecer o sistema público de saúde e aperfeiçoar regras de convivência. Não quero ser pessimista, mas acredito que vamos ver bem mais tempo que outros países para poder vencer esta pandemia.
AGORA – Há quem diga que a eleição deste ano será “a mais digital da história”. Pela sua experiência de cobertura política, como vislumbra o perfil das eleições deste ano?
GC – Teremos uma eleição atípica, com um peso ainda maior das redes sociais. Campanhas que tenham um perfil digital já estabelecido com o seu público-alvo vão ter vantagem. Quem tiver o que dizer, o que mostrar e estratégias bem estabelecidas de comunicação com os eleitores vai sair na frente, com maiores chances de sucesso.
AGORA – A pandemia forçou mudanças drásticas nas redações, como a adesão em massa ao home office. Acredita que essa nova realidade vai permanecer mesmo no pós-pandemia?
GC – Acredito que as mudanças impostas pela pandemia vão perdurar. Principalmente no que diz respeito às relações de consumo, com o aumento do uso da internet para compra e venda de produtos, e também no modo de produção. O trabalho remoto vai continuar crescendo em algumas atividades que não exigem a operação presencial. Em outros setores, teremos uma espécie de sistema híbrido, com o uso do trabalho presencial e do home office. Viveremos em um mundo diferente daqui para frente, com o temor de enfrentarmos uma nova pandemia nos próximos anos.