Ceará-Mirim

Exército brasileiro comemora golpe militar a pedido de Bolsonaro

SÃO PAULO (Reuters) – As Forças Armadas do Brasil prestaram homenagem neste domingo ao golpe de 1964 que levou a duas décadas de ditadura militar, após o presidente Jair Bolsonaro – que argumenta que a intervenção militar salvou o país do comunismo – reverter uma proibição de 8 anos às celebrações.

A medida gerou debate e sublinhou o apoio de Bolsonaro a um governo militar que executou centenas, torturou milhares, fechou o Congresso Nacional e deixou a maioria do brasileiros com memórias obscuras do período.

O Exército não podia comemorar o golpe de 1964 desde 2011, quando a ex-presidente Dilma Rousseff, ex-guerrilheira de esquerda que foi presa e torturada sob a ditadura, ordenou um fim aos eventos que marcavam a data.

O Ministério da Defesa afirmou que as Forças Armadas não realizarão comemorações públicas neste domingo. Bolsonaro está em viagem internacional, mas agendou um evento no palácio presidencial na sexta-feira para marcar o aniversário com o alto escalão militar.

Bolsonaro, um capitão do Exército aposentado, tem há tempos exaltado o governo militar de 1964 a 1985. O presidente já afirmou, inclusive, que o maior erro da época foi não ter matado esquerdistas o suficiente. Mais cedo em sua carreira política, ele disse no Congresso que era “a favor da ditadura” e que o Brasil “nunca resolveria seus graves problemas nacionais com essa democracia irresponsável”.

Como muitos no Exército e parte da população, Bolsonaro considera o golpe de 1964 uma salvação. Ele apontou o colapso da economia venezuelana sob um governo socialista como prova de que o Exército salvou o Brasil de destino semelhante.

Ao invés de celebrações públicas, as Forças Armadas brasileiras afirmam que irão realizar programas internos e painéis que examinem eventos que levaram ao golpe no Brasil, o que aconteceu durante o regime militar e a importância do retorno à democracia em 1985.

Apesar da abordagem mais sóbria por parte do Exército, o encorajamento público de Bolsonaro decepcionou muitos.

“Ao insistir no tom de celebração, o presidente mostra-se mais uma vez ambíguo quanto aos princípios democráticos que diz defender”, escreveu o jornal Folha de S. Paulo em editorial nesta semana.

“Parece evidente sua inclinação a atiçar setores mais extremados da opinião pública, que estiveram entre os primeiros apoiadores de sua candidatura presidencial”, acrescentou.

Promotores federais atacaram a decisão de Bolsonaro, afirmando em comunicado por escrito que permitir a celebração vai contra o juramento do presidente de defender a Constituição.

“O golpe de Estado de 1964, sem nenhuma possibilidade de dúvida ou de revisionismo histórico, foi um rompimento violento e antidemocrático da ordem constitucional”, disse a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), do Ministério Público Federal.

Enquanto uma maioria de brasileiros vê a ditadura militar com maus olhos, alguns lembram do período como um tempo de ordem e relativa segurança, comparado com o aumento de crimes violentos nas últimas décadas. Em 2017, o Brasil registrou 64 mil assassinatos, um número muito maior que qualquer outro país.

Cinquenta e um por cento dos brasileiros, segundo pesquisa publicada pelo Datafolha em outubro, sentem que a ditadura deixou um legado negativo, enquanto 32 por cento dizem que o período foi bom pra o Brasil. Os 17 por cento restantes afirmam não ter opinião.

A pesquisa com 9.137 pessoas em todo o país tem uma margem de erro de 2 pontos percentuais.

O Brasil, diferente de seus vizinhos sul-americanos Argentina e Chile, que também tiveram regimes militares brutais e apoiados pelos EUA durante a Guerra Fria, nunca julgou ninguém pelos assassinatos, tortura e outros abusos realizados durante o período.

Em 2014, um relatório da Comissão da Verdade apresentou evidências de que o regime militar brasileiro havia assassinado ou “desaparecido” com 434 dissidentes políticos e torturado mais de 50 mil outros.

Uma lei de anistia de 1979, no entanto, continua em vigor, o que significa que nem os militares nem os guerrilheiros de esquerda da época foram responsabilizados por seus atos.

Fonte: Brasil Reuters

Sair da versão mobile