Em meio a polêmicas, Bolsonaro inaugura aeroporto na Bahia: ‘Somos todos paraíbas’

Presidente lamentou ausência do governador Rui Costa e profetizou que ACM Neto ocupará seu cargo no futuro

Mário Bittencourt, Especial para O GLOBO

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Presidente Jair Bolsonaro cumprimenta prefeito de Salvador, ACM Neto, no Aeroporto Glauber Rocha Foto: Reprodução/Twitter/Ministério da Infraestrutura
Presidente Jair Bolsonaro cumprimenta prefeito de Salvador, ACM Neto, no Aeroporto Glauber Rocha Foto: Reprodução/Twitter/Ministério da Infraestrutura

Em meio às polêmicas sobre a “paternidade” do Aeroporto Glauber Rocha e a repercussão de um comentário sobre o Nordeste, o presidente Jair Bolsonaro inaugurou nesta terça-feira as instalações do terminal em Vitória da Conquista, na Bahia, ainda com obras inacabadas. Cercado de expectativas, o evento foi antecedido pelo episódio em que Bolsonaro chamou governadores da região de “paraíbas”e também pela recusa do governador Rui Costa (PT-BA) em marcar presença.

Na segunda visita ao Nordeste desde a posse, o chefe do Planalto foi recebido pelos prefeitos de Vitória da Conquista e de Salvador, Herzem Gusmão (MDB) e Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM). O primeiro encontro das autoridades aconteceu na pista do aeroporto, construído com verbas dos governos estadual e federal, com recursos destinados pelas gestões de Dilma Rousseff (PT) e de Michel Temer (MDB). Ao todo, a obra custou R$ 105,8 milhões, sendo que R$ 74,6 milhões foram pagos pela União através de dois convênios.

Ao discursar durante a inauguração, Bolsonaro disse amar o Nordeste e afirmou que “somos todos paraíbas”. O termo, utilizado pelo presidente na semana passada, é comumente empregado em estados do Sudeste, principalmente no Rio de Janeiro, para referências a migrantes nordestinos.

— Eu amo o Nordeste, afinal de contas a minha filha tem em suas veias sangue de cabra da peste — afirmou o presidente, em referência às origens nordestinas da família da primeira-dama Michelle Bolsonaro, mãe de Laura, de 8 anos.

Bolsonaro disse “lamentar muito” que Rui Costa estivesse ausente. Na segunda-feira, o petista cancelou sua participação e acusou o governo federal de tornar a cerimônia uma “convenção político-partidária”. O presidente, por sua vez, reclamou que o estado não autorizou a presença da Polícia Militar na segurança do evento. Costa rebateu que o Planalto “fechou o aeroporto e excluiu o povo” e acusou Bolsonaro de criar uma “falsa polêmica”.PUBLICIDADE

— Lamento muito o governador não estar aqui, afinal de contas ele estaria ao lado do seu povo. Não queremos dividir partidos. Não aceitaremos, evidentemente, querer impor a nós o socialismo ou o comunismo — afirmou o presidente.

Durante o evento, Bolsonaro foi ovacionado por grande parte do público. Ao ser anunciado, ele foi recebido ao som de aplausos e de gritos de “mito”. Uma das principais reclamações de Rui Costa era a divisao desigual dos convites para a solenidade. Para os petistas, o governador sairia em desvantagem, já que o presidente e o prefeito Herzem Gusmão, apoiador de Bolsonaro, reuniriam a maioria dos presentes.

Nas redes sociais, há imagens de um ato realizado em frente ao aeroporto. Nos registros, cerca de 40 manifestantes exibem cartazes com dizeres contrários aos cortes na Educação e à Reforma da Previdência. Alguns vestem chapéus de cangaceiros, comuns às campanhas de orgulho voltadas para nordestinos. Bolsonaro também adotou um acessório em referência à região durante o evento: um chapéu de vaqueiro.

Futuro presidente

Ainda enquanto falava ao público de Vitória da Conquista, Bolsonaro profetizou que Antônio Carlos Magalhães Neto (ACM Neto) ocupará a Presidência da República um dia. Ele se referiu ao prefeito de Salvador como um “parceiro de longa data”.

— Eu conheci o velho ACM, um homem forte, combativo, extremamente preocupado para com seu povo da Bahia. Deixou ele (ACM Neto) na segunda e na próxima geração, que chamo de garoto porque é mais novo que eu. Lá na frente você ocupará um dia a honrosa cadeira que ocupo — destacou o presidente.

Bolsonaro disse também que “com fé e com patriotismo nós colocaremos o Brasil no lugar que ele merece”. Sobre a obra do aeroporto, comentou que “o povo de Conquista merece” e falou que determinou aos ministros “não deixar uma obra parada”.

Sem conclusão

A dois dias do início previsto da operação, o novo aeroporto, no Sudoeste da Bahia, está com as obras do entorno, na rotatória de acesso, inacabadas. Vereadores da cidade visitam o local na segunda-feira e cobraram agilidade na conclusão do trabalho. Ainda há diversos operários e máquinas trabalhando às margens da BR-116, no acesso ao terminal. A obra está sendo feita pela empresa Via Bahia, concessionária da rodovia, que não informou quando elas serão concluídas.

Inicialmente o terminal vai absorver voos que operam no antigo aeroporto, o Pedro Otacílio de Figueiredo, com destino a São Paulo e Minas Gerais.

O aeroporto terá capacidade para receber Boings 737-700, para até 138 passageiros, e airbus A300, de até 300 passageiros. A expectativa é que o aeroporto tenha movimento de 500 mil passageiros por ano até 2020, o dobro da capacidade do Aeroporto Vicente Grilo, em Jequié, no interior do estado, que será desativado.

O nome é uma homenagem ao cineasta Glauber Rocha, que é natural de Vitória da Conquista. Ele é considerado o pai do Cinema Novo, movimento cinematográfico com ênfase nas desigualdades sociais das décadas de 1960 e 1970. Rocha morreu em 22 de agosto de 1981, no Rio de Janeiro.

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