Demissão expõe conflitos no círculo próximo de Bolsonaro

Há surpresa com decisão abrupta | Presidente sinaliza aversão a tutela

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Santos Cruz foi comunicado que sairá do governo durante uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro | Foto: Sérgio Lima/Poder360
Santos Cruz foi comunicado que sairá do governo durante uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro | Foto: Sérgio Lima/Poder360
PAULO SILVA PINTO

A demissão do general Santos Cruz da Secretaria de Governo no final da tarde de 5ª feira (13.jun.2019) foi uma surpresa para alguns integrantes do governo. Mostra que Bolsonaro não poupará ninguém que tiver atritos com seus filhos, nem mesmo militares, ainda que isso possa demorar 1 pouco.

Bolsonaro envia 1 sinal forte de que respeita os generais, mas não aceita tutela. Santos Cruz era visto por alguns no governo como 1 ministro que promovia embates desnecessários.

O presidente quer avanços na comunicação com urgência. Nomeou Fábio Wajngarten para a Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social) para isso. A área é subordinada a Santos Cruz. Houve atritos entre os dois.

O escolhido para substituir Santos Cruz é o general de Exército Luiz Eduardo Ramos, do quadro ativo. Tem patente acima do agora ex-ministro. É general de Divisão da ativa e até agora comandante militar do Sudeste, em São Paulo.

O Planalto soltou nota oficial. Não houve dúvida: Bolsonaro demitiu Santos Cruz. O general também divulgou 1 texto e foi explícito: “Deixo a função de ministro (…) por decisão do Excelentíssimo Presidente Jair Messias Bolsonaro”. Leia as íntegras a seguir:

QUEM GANHA E QUEM PERDE

  • Ganham:
    • Carlos Bolsonaro – O filho do presidente foi criticado nos bastidores pelo general por tentar interferir na comunicação;
    • Olavo de Carvalho – O escritor e Santos Cruz tiveram altercações públicas. Ao demitir o general, Bolsonaro endossa Carvalho;
    • Fábio Wajngarten – O secretário de Comunicação tinha atritos com o general, a quem respondia;
    • Onyx Lorenzoni – O chefe da Casa Civil disputava espaço com Santos Cruz na articulação política;
  • Perdem:
    • Santos Cruz – o general considerava-se amigo do presidente, com quem conviveu antes de ocupar o cargo. Passou por episódios constrangedores e foi demitido em menos de 6 meses no governo;
    • Almirante Segóvia –  o presidente da Apex foi escolhido para o cargo por Santos Cruz e demitiu diretores do órgão ligados a Olavo de Carvalho;
    • Militares no governo – embora o novo ministro seja também 1 general, Bolsonaro mandou 1 recado claro: ninguém terá tratamento privilegiado no governo. Quem manda é ele;
    • Governadores de oposição – o único gabinete do Planalto acessível a eles era o de Santos Cruz;
    • Relação Brasil-China – como responsável pelo PPI (Programa de Parceria de Investimentos), Santos Cruz era 1 interlocutor de empresas chinesas que têm pouco trânsito neste governo.

Diferentemente do senso comum de que o presidente vai cada vez mais desidratar e ser tutelado por uma aliança de militares-deputados-senadores, Jair Bolsonaro segue bem sólido no comando.

Quem imaginaria que ele demitiria Santos Cruz, de maneira tão direta e abrupta como o fez nesta 5ª feira? Ninguém.

O presidente está mais dono de seu governo do que nunca. Esse poder não chega sem criar desafetos e inimigos. Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, e uma parte grande do establishment econômico consideram caótico o método bolsonarista de comandar.

No caso de Santos Cruz, o Drive identificou 1 comportamento que incomodou a Bolsonaro. De maneira quase explícita, o ministro agora demitido quis avançar por muitas áreas. Dominou a Apex (do Itamaraty). Excluiu a Secom da presidência do Conselho de Administração da EBC. Esse apetite por se colocar em vários setores do governo não pegou bem.

Há também 1 aspecto comportamental que pode ter influenciado. Santos Cruz é em geral uma pessoa circunspecta. Muitos o confundem como mal-humorado. A mais de uma pessoa Bolsonaro reclamou que seu dia a dia era muito pesado para ter pessoas de cara fechada ao seu lado. Esse é 1 detalhe, algo lateral, mas não deve ser desconsiderado quando se tenta analisar o processo decisório do presidente.

A demissão de Santos Cruz foi uma surpresa especialmente para militares que atuam em várias áreas no Planalto. Na avaliação dessas pessoas, o general caiu por suas qualidades, não defeitos.

Entre oficiais, quando se vê algo diferente, é obrigação se manifestar. Chamam isso de divergência leal. É o que Santos Cruz fazia com Bolsonaro, porque, dizem esses militares, o presidente não sabe de tudo que se passa e acaba sendo ludibriado por pessoas próximas de seus filhos.

O general também teve embates na área de comunicação por conta da falta de coordenação entre Planalto e ministérios e por contratos que considerava inadequados. Essa seria outra razão da demissão. O que se percebe é uma zona conflagrada no círculo mais próximo do presidente. Ele considera isso em parte útil, impedindo que fique refém de 1 grupo ou de outro.

O problema é que os conflitos reduzem eficiência, e o governo precisa de resultados, especialmente na comunicação, diante dos índices cadentes de popularidade. Bolsonaro não é 1 conciliador. O tempo mostrará como lidará com essas arestas, que lhe trazem riscos.


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