Katna Baran
O procurador Deltan Dallagnol divulgou um vídeo nesta segunda-feira (10) em que defendeu o trabalho da força-tarefa da operação Lava Jato, afirmando ser teoria da conspiração a ideia de que a investigação foi direcionada.
Ele disse ainda que a operação é imparcial e que as provas que incriminavam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do tríplex do Guarujá (SP) são robustas.
“Tentar imaginar que a Lava Jato é uma operação partidária é uma teoria da conspiração que não tem base nenhuma. Vejam que 15 procuradores atuam na Lava Jato só em primeira instância em Curitiba. […] Grande parte dessa equipe foi formada antes de aparecer o primeiro político, quando não se tinha ideia de onde iria a Lava Jato iria chegar”, justificou o coordenador da operação.[ x ]
Foi a sua primeira manifestação após a divulgação de reportagem do site The Intercept, que mostra trocas de mensagens entre integrantes da força-tarefa e com o ex-juiz Sergio Moro.
Deltan disse que a Lava Jato sofreu “um ataque gravíssimo” com a invasão de celulares de agentes envolvidos na operação. “Nosso receio é que a atividade criminosa avance agora para falsear e deturpar fatos nesse imenso ataque contra a Operação Lava Jato”, declarou.
Ele afirmou não reconhecer, no entanto, a “fidedignidade” das mensagens divulgadas. “Essas acusações feitas não procedem e a origem delas está ligada ao ataque criminoso realizado. Mesmo não reconhecendo a fidedignidade das mensagens que foram espalhadas, nós reconhecemos que elas podem gerar um desconforto em alguém, a gente lamenta profundamente por isso”, justificou na gravação.
Respondendo a alguns trechos da reportagem, como o que mostra a possível dúvida do procurador sobre a consistência da denúncia contra Lula, ele afirmou que a revisão, crítica e análise de detalhes da peça ocorreram justamente para que o Ministério Público Federal pudesse oferecer uma acusação robusta.
“As provas do caso tríplex embasaram a acusação porque eram robustas, e tanto eram robustas que nove julgadores de três instâncias diferentes concordaram com a robustez das provas e condenaram o ex-presidente Lula”, avaliou.
Citando várias legendas que tiveram políticos alvos da operação, Deltan afirmou que a força-tarefa é contra a corrupção, independentemente de partido político.
“Vamos continuar dispostos e disponíveis para prestar esclarecimentos sobre fatos e sobre procedimentos da nossa responsabilidade a fim de manter a confiança da sociedade plena na nossa legitimidade de atuação e na legalidade e licitude da nossa atuação”, disse. Ele ainda disse que a força-tarefa deve “aperfeiçoar” as atividades com as críticas recebidas da sociedade.
Deltan afirmou também que “é natural” que procuradores e juízes conversem, mesmo sem a presença da defesa, mas que isso não quebrou a imparcialidade da Lava Jato.
“Some-se a tudo isso que todos os atos e decisões da Lava Jato são revisados por três instâncias independentes do Poder Judiciário por vários julgadores”, apontou sobre a possível influência do atual ministro da Justiça, então juiz Sergio Moro, na condução da operação.
Moro teria sugerido a inversão de ordens de fases da Lava Jato e até indicado testemunhas a Deltan, segundo as mensagens divulgadas.
O procurador disse ainda que o número de absolvidos judicialmente e a frequência de vezes que o MPF recorreu de decisões comprovam que a instituição “não se submeteu ao entendimento da Justiça” e que o juiz “não acolheu o que o Ministério Público queria”. Segundo ele, foram 54 acusados que acabaram absolvidos das acusações da força-tarefa.
Deltan ainda defendeu a posição da força-tarefa em criticar a entrevista do ex-presidente a veículos de imprensa e disse que manteria a postura em qualquer caso, independentemente de ser ou não político ou de seu partido.
“A força-tarefa entende que a prisão de uma pessoa em regime fechado restringe o direito dela de se comunicar com a imprensa. Isso não é uma questão de liberdade de imprensa, é uma questão e liberdade do preso”, disse.
Em nota divulgada pela assessoria, a força-tarefa da Lava Jato na Procuradoria do Paraná afirmou que desde abril os procuradores vêm sendo alvos de invasões a parelhos celulares e aplicativos de conversas instantâneas e que já há uma investigação em curso. Também foi instaurado um procedimento administrativo pela a Procuradoria-Geral da República para apurar os ataques.
Segundo os procuradores, para obter as conversas, o hacker se aproveitou de falhas das operadoras, clonando números de telefones de procuradores e simulando ligações aos membros do MPF. Ele teria usado “máscaras digitais” para fazer o trabalho.
Em conversas, o invasor teria ainda se passado por procuradores e jornalistas para “obter a confiança de seus interlocutores e assim conseguir mais informações”.
“O hacker ainda tentou fazer contato com alguns procuradores utilizando-se de identidade virtual falsa e com tom intimidatório, mas suas investidas não foram aceitas pelos procuradores. Além disso, foram identificadas tentativas de ataques cibernéticos a familiares próximos de procuradores, o que reforça o intuito hediondo do criminoso”, diz a nota.
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