O corpo do professor universitário Luiz Di Souza, vítima do novo coronavírus, foi enterrado em caixão lacrado, sem velório e com a presença de cinco familiares na noite deste domingo (29). Luiz morreu na noite de sábado após passar uma semana internado. Essa foi a primeira morte por Covid-19 no Rio Grande do Norte. Luiz tinha 61 anos e era diabético.
O sepultamento aconteceu no cemitério São Sebastião, em Mossoró. A esposa de Luiz, Margareth Souza, conta que a orientação foi para que os familiares ficassem a pelo menos três metros do caixão. “Não podíamos nem chegar muito perto”, disse. Somente ela, os três filhos e um genro puderam ir ao sepultamento. “Não permitem mais pessoas por causa do vírus”, disse Margareth.
De acordo com o último boletim da Sesap, divulgado neste domingo (29), o RN tem 68 casos confirmados no novo coronavírus.
Atendimento médico
Segundo ela, o marido teve febre e tosse e procurou o hospital no dia 18 de março. Ele foi medicado e voltou para casa. Sem melhora, Luiz voltou ao hospital no dia 21 e pediu para fazer o teste de coronavírus. “O médico pediu uma tomografia do pulmão e quando saiu o resultado ele internou o Luiz direto na UTI”, conta Margareth.
“No domingo ele foi para o quarto. Ele estava se recuperando, cada dia era uma melhora maior. Aí no sábado a noite ele foi colocar um shorts e isso deu um cansaço muito grande, uma falta de ar. Os médicos levaram ele pra UTI, e lá ele teve uma parada cardiorrespiratória e não voltou”, conta Margareth.
A família só foi informada do resultado positivo do teste de coronavírus após o óbito. “O resultado saiu no dia 27, mas a gente só foi comunicado depois da morte dele”, explica a esposa.
Luiz Di Souza era lotado no Departamento de Química da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). As aulas na instituição estão suspensas desde o dia 15 de março, justamente para conter o avanço da doença no estado. A Universidade emitiu nota onde lamenta a morte do professor.
Amigos lamentam a perda
Márcio Cleivo Souza, professor de química do IFRN Apodi e ex-aluno de Luiz di Souza
“Foi um choque, fiquei sem chão quando recebi a notícia. Dr. Luiz não era só um professor de química, ele era um pai para muita gente. Ele era o tipo de pessoa que tirava do próprio bolso para ajudar pessoas carentes a viajarem a congressos e em outras situações. Sou muito grato a tudo que ele me ensinou, era um cara com um coração gigante. Isso serve de alerta, vamos ficar em casa porque esse vírus é devastador, não é brincadeira”.
Anne Gabriella Dias Santos, professora da UERN e ex-aluna de Luiz, que conheceu em 2004
“Ele é meu pai científico. Foi ele quem fez toda minha iniciação na ciência, que fez com que eu me apaixonasse por pesquisa, trabalhar com isso, me tornar uma professora universitária. Dividi a sala com ele e desenvolvemos vários projetos de pesquisa. Luiz é minha referência. Ele foi meu co-orientador de mestrado, doutorado, meu parceiro fiel, uma pessoa que fez com que eu aprendesse a pesquisar com ética, a valorizar, a me apaixonar por ciência, a querer sempre dar meu melhor para que os alunos pudessem também aprender e se comprometer. Ele é um exemplo de profissional, de ser humano. Um amigo de todas as horas.
Ele tinha um lado humano inigualável, ajudava demais os alunos. Levou várias vezes alunos carentes para almoçar na própria casa. Ajudava financeiramente os alunos falando que era projeto quando via que os alunos estavam passando necessidade. Além de um profissional maravilhoso e de uma competência inquestionável, também era um ser humano maravilhoso. Tudo isso que ele foi na minha vida, ele foi na vida de muitos alunos”.
Vasco Lima, professor de química e ex-aluno de Luiz
“Virei aluno de iniciação científica no laboratório dele. Foi a partir desse momento que particularmente ele me adotou como filho e eu o tinha como pai. Luiz me pegou aluno de graduação e me transformou em mestre. O caminho que estou trilhando agora é pra me tornar doutor e esperava muito que ele estivesse lá no dia da minha defesa de tese e que ele me ajudasse a alcançar esse sonho. Infelizmente a Covid-19 me tirou isso.
Ele abriu as portas da casa dele pra todos os alunos. Ele era muito além de um professor pra gente. Era amigo, mestre, pai. Ele era incrível, dono de um coração enorme. Ele era um norte pra muita gente. Ele transformou a vida de muitos alunos. Era um exemplo de ser humano. Uma verdadeira inspiração pra mim. Nossa bússola se foi e o pior disso foi a gente não poder se despedir”.
Luana Paula da Cunha Silva, aluna e participante de um projeto de extensão de Luiz
“Não se pode falar de Luiz sem falar de sua família ser nossa família. Ou sem ter tido um dia de agonia e ele nos encher de alegria. Nem sem falar das histórias, das inúmeras aventuras, das viagens, das idas e das vindas, das ajudas e das lições. Do sorriso tímido ou da gargalhada frouxa. Da seriedade e da palavra solta. Não se pode falar em Luiz sem ter tido a sorte de conviver nem que seja um dia e ter presenciado sua enorme alegria de viver, vontade de aprender e dedicação em ensinar.
Não se pode falar de Luiz sem falar da sorte de ter vivido no mesmo tempo que ele, ter aprendido que humildade caminha ao lado da grandiosidade e que ser vai muito além de parecer ou de ter. A luz de Luiz nos guia. Ele era um ser único”