Compras pela internet e oferta pelo WhatsApp: como não cair em golpe

Especialistas alertam consumidor a não compartilhar links e checar em sites se empresas são confiáveis

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Ednice Confort, de Barra Mansa, em abril do ano passado comprou uma cadeira que nunca chegou - Agência O Dia

Por Martha Imenes e Antonio Augusto Puga

As compras online estão em alta, cada vez mais os brasileiros buscam pelas telas dos computadores, smartphones e tablets o seu objeto de desejo. Dados da Compre&Confie, empresa de inteligência de mercado e segurança digital, aponta que somente em abril as compras online tiveram aumento de 10,3% e totalizam R$ 5 bilhões. E um balanço realizado pela Ebit mostra que no ano passado os negócios via internet fecharam com faturamento acima de R$ 50 bilhões. Só que na mesma esteira do aumento de acessos ao e-commerce de lambuja surgem os espertinhos e os piratas virtuais, que oferecem produtos e serviços que não existem e outros se aproveitam da febre e do alcance do WhatsApp para aplicar golpes para roubar dados e senhas bancárias. A dica é uma só: atenção redobrada.

“Checar os links enviados, avaliar os preços e a reputação dos e-commerces, além de investir na segurança dos aparelhos em que as compras realizadas (com a instalação de antivírus, por exemplo), são imprescindíveis”, alerta André Dias, diretor-executivo do site Compre&Confie.

Golpistas utilizam marcas conhecidas, como O Boticário e Gol, por exemplo, para atrair o usuário. Até mesmo a logomarca de órgãos e empresas do governo entraram nesse chamariz. Receita Federal, INSS, Previdência, Caixa Econômica e Banco do Brasil são algumas utilizadas por falsários para aplicar o golpe.

DATAS COMEMORATIVAS

O cerco aos usuários ocorre sempre perto de datas festivas como Dia das Crianças, Natal, ou Dia das Mães, que ocorreu no último domingo. Muitos usuários recebem pelo WhatsApp uma mensagem com a oferta de brindes e promoções e solicitando o compartilhamento. E é dessa forma que o golpe cresce.

“Cliquei no link e preenchi todos os dados, mas para minha sorte recebi o brinde em uma loja que fiz cadastro há muitos anos”, conta a auxiliar de secretaria, Aline Rodrigues, de 37 anos, moradora de Rocha Miranda. A Mesma sorte não teve Lorena Almeida, 38, da Vila da Penha. “Preenchi tudo e não recebi nada. Veio no meu cartão a cobrança de créditos de celular”, lamenta. Vamos aguardar qual vai ser a “oferta” para o Dia dos Pais em agosto…

Pagamento efetuado e… nada de receber o produto

Um setor com números tão atrativos, no ano passado 58 milhões de consumidores fizeram compras online, segundo a Ebit, chama atenção dos que veem nesses consumidores vítimas em potencial, que o digam as dezenas de consumidores que foram lesados por uma empresária que comercializava pelas redes sociais assentos infantis para automóveis.

Morando nos Estados Unidos, ela utilizava até o ano passado as redes sociais para a venda do equipamento. No entanto, poucos consumidores conseguiram ter o produto em casa, a maioria aguarda a cadeirinha ou a devolução do dinheiro, o que não aconteceu . Segundo informações obtidas por algumas das vítimas, a empresária teria fechado suas contas bancárias no país, além de ter vendido imóveis de sua propriedade.

No site Reclame Aqui existem dezenas de reclamações de consumidores de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Piauí, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Norte, Pará que enfrentam o mesmo problema: pagaram e não receberam o produto.

As histórias de quem foi ludibriado são semelhantes, como a publicitária Grazielle Lemos, moradora do Flamengo, Zona Sul do Rio, que pagou cerca de R$ 1.300 pelo produto. “Como os preços no Brasil eram caros, decidi procurar nas redes socais pessoas que eram revendedoras ou morassem nos Estados Unidos e oferecessem esse tipo de serviço, mesmo com os impostos o assento sairia mais em conta. Encontrei a empresa, que me ofereceu a cadeirinha com um preço barato e frete incluso. Comprei em outubro e quando passei a acompanhar os atrasos vi um vídeo da dona da empresa chorando dizendo que a culpa não era dela, e que os produtos seriam entregues”, conta.

Segundo Grazielle o vídeo chamou sua atenção e passou a pesquisar nos sites de reclamações, onde constatou que várias pessoas viviam o mesmo problema. “A partir daí entendi que havia caído em um golpe”, diz a publicitária.

Outra vítima é a professora de música Ednice Confort, de Barra Mansa, que em abril do ano passado comprou uma cadeira. “Estava procurando uma cadeira para a minha filha, quando vi no Instagram o anúncio da empresa. Fiz contato e acertamos o preço de R$ 1.050, com o frete incluído. Fui informada que o produto levaria algum tempo para chegar e deveria depositar a quantia em uma conta particular dela. O tempo passou e nada da cadeira chegar”.

“No início desse ano recebi um e-mail dela informando que tinha encerrado a empresa e que eu seria procurada por seu advogado no Brasil, o que não aconteceu”, revela Ednice que entrou na Justiça para reaver seu dinheiro.

Dicas do Procon e da Defensoria

A coordenadora de Atendimento do Procon RJ, Soraia Panella alerta que o consumidor deve ficar atento quando fizer compras online, principalmente quando for de empresas do exterior, já que a legislação na protege o consumidor nesses casos.

“É importante verificar o registro do site, se o produto tem representação no Brasil, se é um site seguro. No caso do produto oferecido pela empresa constatei que o fabricante dos assentos infantis não possui representante aqui, o que é um problema se o consumidor necessitar de uma manutenção ou fazer a troca do produto, por exemplo. Outro ponto que a pessoa deve ficar atenta são as ofertas e as formas de pagamento, além de consultar sites de reclamações, orienta.

Fazer compras pelo Instagram exige cuidados redobrados, é o que orienta a coordenadora do Núcleo de Defesa do Consumidor da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, Patrícia Cardoso. “É preciso muito cuidado, ter indicações de pessoas de confiança que compraram algum produto e não tiveram problemas”, alerta.

“O ideal é que o consumidor compre sempre em sites que tenham CNPJ, emitam nota fiscal, possuam lojas físicas. É importante também pesquisar se existem reclamações contra a empresa.Esse tipo de procedimento uma garantia para quem compra”, diz.

Para a coordenadora do Núcleo de Defesa do Consumidor a ação movida pelas pessoas lesadas por Jussara de Souza Motta corre o risco de ter um tramitação complexa , já que ela vive nos Estados Unidos. ” Sem dúvida é um processo que certamente terá um trâmite complexo pela questão da pessoa morar no exterior, além de envolver custos altos”, finaliza.

Advogado entra na Justiça com ação coletiva

Representando mais de 60 consumidores que foram lesados pela empresária, o advogado Yuri Bezerra, de Brasília, reconhece que a a batalha será longa e não há certeza no ressarcimento.

“Estamos com uma ação simples com litisconsorte ativo e passivo (ação coletiva) na Justiça, contra e empresa e a empresária, mas é um processo longo, mesmo porque não há um endereço para citação. Outra questão é que o Código de Defesa do Consumidor (CDC), não abrange casos como esses”, explica.

Segundo o advogado como o site da empresa não tem domínio no Brasil, é um fator a mais de dificuldade.

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