Carlos Bolsonaro usa frio para questionar aquecimento global, e cientistas explicam o erro

Em rede social, filho do presidente Jair Bolsonaro faz relação equivocada entre tempo, uma questão pontual, e clima, um dado de longo prazo

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Aquecimento global pode provocar fim de geleiras no Ártico Foto: AFP / AFP
Aquecimento global pode provocar fim de geleiras no Ártico Foto: AFP / AFP
Audrey Furlaneto | O Globo

RIO – Filho do presidente Jair Bolsonaro , o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) relacionou tempo e clima, questões muito distintas, em post no Twitter, no último sábado. Na rede social, ele escreveu: “Só por curiosidade: quando está quente a culpa é sempre do possível aquecimento global e quando está frio fora do normal como é que se chama?”

“Estar quente” é da seara do tempo, ou seja, questão de curto prazo, “variação de um dia, ou de uma semana para outra”, como explica o professor de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ , Luiz Pinguelli Rosa. Já clima e aquecimento global se referem a mensurações de longo prazo.

— (A questão feita por Carlos Bolsonaro) Não tem lógica nenhuma. A existência do aquecimento global é comprovada a partir de uma média de temperaturas que leva em conta muitas informações, é um cálculo complexo computacional, feito por centenas de cientistas do mundo todo. O fato de fazer mais ou menos frio em algum lugar do país, em determinado momento, não desmente esse modelo — afirma o professor, mestre em Engenharia Nuclear e doutor em Física.

Para ele, o comentário feito pelo filho do presidente “não só mostra falta de conhecimento básico sobre a diferença entre clima e tempo, como também desconsidera evidências científicas”.

— A atmosfera é complexa, e o planeta está esquenteando na média, como comprova o derretimento das geleiras do Hemisfério Norte, por exemplo, ou a onda de calor na Europa . Contra-exemplos de que está fazendo mais frio aqui e acolá não desmentem nada. É mais uma mostra de falta de informação e irresponsabilidade com as políticas ambientais neste governo — critica Pinguelli Rosa.


Marcos Heil Costa, coordenador do Grupo de Pesquisa em Interação Atmosfera-Biosfera, da Universidade Federal de Viçosa , lembra que “o que se tem notado nas estações metereológicas ao redor do mundo é um aumento da média das temperaturas e também da variabilidade delas”. Ele completa:

— As temperaturas frias de hoje são as mesmas de 50 anos atrás, enquanto aumentam os eventos quentes, como a onda de calor na França e na Grécia neste ano, ou em Portugal, no ano passado.  As variações se inclinam mais para o lado quente.

Segundo ele, o Brasil, inclusive, vem apresentando aumento de temperatura considerado acima da média global, que é de 1°, na região Leste, por exemplo, fruto de desmatamento da Mata Atlântica e do cerrado ao longo dos últimos cem anos.

— O frio de um dia é só um ponto na curva, e a curva tem milhares de pontos que, analisados ao longo do tempo, indicam um aumento global da temperatura. Isso é científico. Dizer que um dia frio desmente o aquecimento global seria como afirmar que o nascimento de um anão diminui a estatura média dos cidadãos no planeta — diz Costa.

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