Por Vinicius Sassine | O Globo
O presidente Jair Bolsonaro disse na noite deste sábado que existe um interesse externo em se criar “novos países” dentro do Brasil – sem especificar a quem se referia – e que outros países ambicionam a preservação da Amazônia com o propósito de explorá-la no futuro – sem explicar o que quis dizer a respeito dessa exploração.
As afirmações foram feitas ao deixar o Palácio da Alvorada, num comboio rumo ao Clube da Marinha, onde participaria de uma festa junina.
– O Brasil é uma virgem que todo tarado de fora quer – disse Bolsonaro, irritado com as perguntas dos jornalistas.
O presidente fez as afirmações a partir de questionamentos relacionados a uma declaração do papa Francisco neste sábado. Segundo o papa, prevalece na Amazônia “uma mentalidade cega e destruidora que privilegia o lucro sobre a justiça”, o que “coloca em evidência o comportamento predatório com o qual o homem se relaciona com a natureza”
– A Amazônia é do Brasil, me responda aí, na cabeça dos europeus? Não. Não. Você sabe o que é Triplo A? Andes, Amazônia, Atlântico. São 136 milhões de hectares. o Primeiro Mundo quer para eles a administração dessa área. Você quer perder a Amazônia? – reagiu Bolsonaro aos questionamentos.
DEMARCAÇÕES
Bolsonaro afirmou que outros presidentes brasileiros iam a reuniões do G-20, como a que ele esteve na semana passada, no Japão, e voltavam decididos a demarcar “dezenas” de terras indígenas. O presidente vê nessa política um equívoco, pois, segundo ele, as terras indígenas demarcadas são superiores ao tamanho do Sudeste brasileiro.
– O índio não tem poder de lobby. Quem é que faz a demarcação? Quem faz as demarcações, se ele (o índio) não tem poder de lobby? Ongs, grana de fora do Brasil, áreas riquissimas. O que o outro mundo quer é preservar essa área para ele explorar um dia – disse o presidente.
Bolsonaro seguiu com seu raciocínio. Ele afirmou que há na Organização das Nações Unidas (ONU) uma discussão antiga sobre a autodeterminação dos povos indígenas. E, então, citou o interesse de que existam “novos países dentro do Brasil”, sem dar detalhes.
– Você imagina uma cidade com 9 mil habitanrtes. É uma cidade pequena, né? Os yanomami são 9 mil. A área dos yanomami é duas vezes a cidade do Rio de Janeiro. Você acha que um presidente da República tem de ir para fora e se submeter aos caprichos dessas pessoas que querem criar novos países dentro do Brasil?
O presidente afirmou ter dado a “devida resposta”, “muito educada”, aos presidentes da Alemanha, Angela Merkel, e da França, Emmanuel Macron, durante a reunião do G-20. Merkel e Macron cobraram Bolsonaro sobre o desmonte de políticas ambientais no Brasil.
– Convidei-os a voar de Boa vista a Manaus. Se encontrarem um hectare de devastação de terra, aí eles têm razão. Agora me convide para voar na Europa. Se tiver um hectare de floresta, voces têm razão. Qual país do mundo tem o que nos temos? Por que lá fora, países que não têm nada, como Israel, são uma grande potência? E nós aqui temos tudo e somos essa… isso que nós somos aqui. Falta patriotismo, amor, fé, crer em Deus.
Bolsonaro disse que todos os mandatários que o antecederam, “sem exceção”, foram “vendilhões da pátria”:
– Por que esculhambaram as Forças Armadas nos últimos 30 anos? Porque nós somos o último obstáculo pro socialismo. Quem me antecedeu, sem exceção, foram vendilhões da pátria. Por isso o Brasil se encontra nessa situação. Só fizeram acordo com países como Bolívia, como Venezuela, Cuba, ditaduras cubanas, e não se aproximaram de países que interessavam para nós.
O Brasil não tem uma agricultura “pujante” como a de Israel, segundo Bolsonaro, em razão da “dos carros-pipa, da indústria da seca”.
– Lá chove menos que no sertão nordestino e a agricultura é pujante. Fui lá buscar tecnologia para esse pessoal – disse o presidente.
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INTERFERÊNCIA EXTERNA
Na quinta-feira, Bolsonaro disse que a interferência de autoridades estrangeiras na demarcação de terras indígenas e quilombolas e ampliação de áreas ambientaisatrapalharam o progresso no Brasil. No café da manhã com deputados e senadores da bancada ruralista, Bolsonaro também fez críticas ao presidente da França, Emmanuel Macron, e à chanceler alemã, Angela Merkel, com quem se encontrou na semana passada em Osaka, no Japão, durante a cúpula do G20.
Segundo o presidente, as conversas com os dois líderes confirmaram o que ele pensava “no passado” sobre a interferência estrangeira na questão ambiental.
— Esses dois, em especial, achavam que estavam tratando com governos anteriores, que após reuniões como essa, vinham pra cá, demarcavam dezenas de áreas indígenas, demarcavam quilombolas, ampliavam área de proteção. Ou seja, dificultavam cada vez mais nosso progresso aqui no Brasil — disse.
Aos parlamentares, o presidente afirmou ter dado um “rotundo não” a Macron, que, na ocasião, pediu que as questões ambientais fossem tratadas em reuniões com o cacique Raoni, líder da etnia kayapó. Aos 87 anos, ele se tornou uma referência internacional nas últimas décadas em sua luta pela preservação dos povos indígenas e da Amazônia. Bolsonaro disse que não conhece Raoni como autoridade.