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Análise: Bolsonaro usa Sete de Setembro para mostrar popularidade e mandar recados

Presidente Jair Bolsonaro participa do desfile de 7 de Setembro, em Brasilia Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo

Presidente Jair Bolsonaro participa do desfile de 7 de Setembro, em Brasilia Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo

Ao entrar no carro rumo ao Palácio da Alvorada depois de participar das comemorações de Sete de Setembro, neste sábado, o presidente Jair Bolsonaro estava aliviado. Após uma semana que começou com a queda de popularidade registrada na pesquisa Datafolha e teve críticas até de sua própria base pela indicação de Augusto Aras para a Procuradoria-Geral da República (PGR), ele buscou transformar o Dia da Independência no palanque ideal para passar recados a adversários e aliados e avisar: o “mito”, após oito meses de um governo cercado de polêmicas, ainda está vivo.

Em um ambiente favorável, Bolsonaro procurou vender a imagem de que ainda tem força e fôlego. A apresentação das Forças Armadas ajudou a fortalecer o ego do ex-capitão, que já disse não ter nascido para ser presidente, mas sim militar. A sensação dele, segundo relatos de pessoas próximas, é que, durante as 2h45m em que esteve na Esplanada dos Ministérios acompanhando os desfiles, passou no teste de popularidade que ele mesmo criou ao convocar a população para usar verde e amarelo.

Para Bolsonaro, ser ovacionado ao quebrar o protocolo e caminhar por 12 minutos saudando as arquibancadas, com direito a reger a banda do Dragões da Independência, era o que ele precisava para rebater críticas de seus próprios eleitores após a escolha de Aras para a PGR.  Os “comentários pesados” no Facebook, como ele mesmo definiu, ainda estão sendo digeridos pelo presidente e seu entorno, que pela primeira vez foram confrontados com uma reação negativa do bolsonarismo.

O primeiro recado do presidente foi dado logo no início das comemorações, ao repetir a cena da posse presidencial e desfilar com o filho Carlos Bolsonaro , vereador do Rio, sentado no banco de trás do Rolls-Royce. Desta vez, nem a primeira-dama Michelle Bolsonaro estava ao lado do marido. Ela o aguardou na tribuna de honra ao lado da filha Laura, de 8 anos, e dos outros filhos do presidente: o senador Flávio, o deputado Eduardo e o estudante Renan.

Após comandar a fritura de aliados do pai na internet, o Zero-Dois não goza da simpatia de boa parte de integrantes do governo, mas o presidente, mais uma vez, deixou claro que o filho tem seu apoio irrestrito. Carlos só foi ofuscado quando o presidente deu “uma carona” para um menino com a camisa do Brasil.

Em outro momento emblemático, Bolsonaro, em mais uma quebra de protocolo, desceu do palanque presidencial e percorreu a Esplanada. Antes, chamou o ministro Sergio Moro, da Justiça e Segurança Pública, para acompanhá-lo. Na caminhada, fez questão de colocar a mão sobre os ombros de Moro, ainda que estivesse acompanhado também dos ministros Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e de Onyx Lorenzoni, da Casa Civil.

Embora nos bastidores o presidente demonstre incômodo com a postura do ministro, o ex-juiz da Lava-Jato ainda conta com um ativo precioso, que é o apoio popular. Pesquisa Datafolha divulgada nesta semana mostra que Moro é o ministro mais bem avaliado, aprovado por 54% da população, superando o próprio presidente, com 29% de avaliação positiva. Bolsonaro sabe que ainda pode se beneficiar da figura de “super-herói” de Moro.

No palanque, Bolsonaro atuou como um showman, ao lado do apresentador Silvio Santos, do bispo Edir Macedo e do empresário Luciano Hang, todo vestido de verde e amarelo. O vice Hamilton Mourão, ao lado da mulher Paula, teve menos destaque que os convidados. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, estava no palanque, que teve as ausências dos presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.

Procurando sempre as câmeras, seja da televisão, dos fotógrafos ou dos celulares, Bolsonaro passou todo o tempo sorrindo, interagindo com a arquibancada e acenando para os que desfilavam. Cada vez mais próximo dos evangélicos, por diversas vezes, agradeceu apontando com os dedos para céu. 

No início desta noite, o presidente embarca para São Paulo para passar por sua quarta cirurgia , um ano após tomar a facada durante ato de campanha, anestesiado pelo que fez no Sete de Setembro.

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