PSL racha nos estados com embates públicos, áudios vazados e até troca de socos

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João Pedro Pitombo | Paula Sperb

Alçado de partido nanico a protagonista da política brasileira após a eleição do presidente Jair Bolsonaro, o PSL vive um cenário de rachas internos em suas bases nos estados.

O clima de disputa é escancarado com embates públicos na imprensa, em redes sociais e até mesmo em brigas com trocas de socos entre integrantes do partido.

O PSL tem 271,7 mil filiados, três governadores, quatro senadores e 54 deputados federais. Em 2018, elegeu ainda 76 deputados estaduais, em 21 estados.

Os casos de embates de Minas Gerais e São Paulo são os mais conhecidos. Em Minas, conforme revelado pela Folha, a deputada federal Alê Silva acusou o ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo) de comandar um esquema de candidaturas laranjas e de ameaçá-la de morte. Ele nega.

No diretório paulista, as deputadas federais Joice Hasselmann e Carla Zambelli trocaram xingamentos em uma rede social, enquanto o deputado Alexandre Frota prometeu “colocar fogo” no PSL paulista e ainda defendeu a saída de Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, do comando estadual da legenda.

A deputada Joice Hasselmann (SP), ao lado dos colegas de PSL Eduardo Bolsonaro (SP) e, de óculos, Felipe Francischini (PR) – Pedro Ladeira/Folhapress

Há disputas semelhantes em pelo menos outros quatro estados. No Rio Grande do Sul, o PSL já mudou de presidente duas vezes desde o final do ano passado. Foram mudanças ruidosas, com denúncias de mau uso do fundo eleitoral, vazamento de áudios de reuniões e troca de socos entre os recém-chegados na política.

A primeira queda foi a da empresária Carmen Flores, candidata derrotada ao Senado, próxima ao ministro Onyx Lorenzoni (DEM). Ela foi substituída pelo tenente-coronel Zucco, deputado mais votado para a Assembleia gaúcha e ligado ao general Hamilton Mourão (PRTB).

Zucco e seu vice, o deputado federal Ubiratan Sanderson, fizeram uma representação no conselho de ética do PSL nacional contra o deputado federal Bibo Nunes. Eles deixaram a direção estadual por causa da falta de resposta, diz Zucco.


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Um áudio de Nunes chamando Zucco e Sanderson de “palhaços” que “se deram mal, estão fora, desmoralizados” foi vazado. Porém, a representação diz respeito a outro episódio envolvendo Nunes.

Descontente com a entrada do PSL no governo de Eduardo Leite (PSDB), Nunes teria dado empurrões em uma solenidade no deputado estadual Ruy Irigaray (PSL), que assumiu a secretaria estadual de Desenvolvimento Econômico.
 
Uma reunião do diretório, que aconteceu no mesmo dia, acabou em xingamentos e agressões mútuas. O PSL passou a ser dirigido pelo deputado federal estreante e empresário Nereu Crispim.
  
“A nova executiva tem filosofia de união. Quem pensar em si mesmo, está fora. Não temos espaço para ‘umbigoides’, que são os que olham para o umbigo e querem fazer do partido uma máquina eleitoral”, diz Bibo Nunes.

Em estados do Nordeste, a principal reclamação é sobre o perfil centralizador dos presidentes dos diretórios locais. 

Na Paraíba, a condução do PSL pelo deputado federal Julian Lemos, conhecido por coordenar a campanha de Bolsonaro no Nordeste em 2018, tem sido questionada por colegas de partido.


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Neste mês, o deputado estadual Moacir Rodrigues e o grupo Direita Paraíba emitiram uma nota na qual criticam a falta de diálogo e de eleições internas para a formação dos diretórios estadual e municipais.

“Entendemos que a nova política se faz com democracia interna. Mas, infelizmente, estamos sob a direção de um coronel, uma pessoa que não escuta ninguém”, disse à Folha o deputado Moacir Rodrigues.

Procurado, Julian Lemos refutou as críticas e afirmou que o PSL da Paraíba vive em harmonia. “Não vou comentar críticas de pessoas que não têm ingerência sobre as decisões do partido”, disse.

As queixas são semelhantes no Rio Grande do Norte, onde o deputado estadual Coronel André Azevedo deixou o partido e o vereador em Natal Cícero Martins promete tomar o mesmo caminho.

Martins diz que o PSL potiguar vive um cenário de “ditadura partidária” e compara o diretório local do partido a um quartel.


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“Eles agem como se estivessem no Exército, com decisões de cima para baixo. Sou uma pessoa democrática, que quer ser ouvida. Esse negócio de bater continência e dizer ‘sim senhor’ não é para mim”, afirma o vereador.

O núcleo duro do partido é formado pelo coronel Hélio Oliveira, o general Araújo Lima e o brigadeiro Carlos Eduardo da Costa —todos são aliados do deputado federal e general da reserva Eliéser Girão. 

O deputado Coronel Azevedo diz que deixou o PSL por discordar da condução do partido, mas negociou uma saída consensual: “Seguirei ajudando o presidente Bolsonaro”. Procurado, Hélio Oliveira não quis comentar as críticas. 

Na Bahia, a deputada federal Dayane Pimentel trava uma disputa interna com a deputada estadual Talita Oliveira e é alvo de críticas de antigos aliados, como o candidato derrotado ao Senado Comandante Rangel.

Rangel acusa a deputada de menosprezar os aliados que ajudaram a sua eleição e apoiaram Bolsonaro na Bahia. Talita reclama de falta de diálogo: “Não adianta ser deputado de plateia e não conversar com os próprios aliados”.


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Também houve críticas à adesão do PSL à gestão do prefeito de Salvador ACM Neto (DEM), na qual o marido da deputada Dayane, Alberto Pimentel, assumiu a secretaria municipal do Trabalho.

Em nota, Dayane Pimentel afirmou que o PSL na Bahia vive seu melhor momento, com sintonia e união entre os seus membros: “A deputada Talita Oliveira é pauta irrelevante”.

Os rachas internos têm sido frequentes no PSL desde o início do ano passado, quando a filiação do hoje presidente Jair Bolsonaro forçou uma reorganização da legenda, com novos filiados e dirigentes.

Na época, a própria filiação fez com que uma parcela do partido, incluindo a tendência interna Livres, pedisse desfiliação. Por outro lado, o número de novos filiados disparou —somente neste ano, já são 30 mil novos membros.

Dirigentes do PSL veem os conflitos como resultado da inexperiência política de parte dos membros do partido. O próprio presidente Bolsonaro, em entrevista à revista Veja, disse que montou o PSL “pegando qualquer um” que quisesse apoiar o seu projeto presidencial.

“O pessoal chegou aqui completamente inexperiente, alguns achando que vou resolver o problema no peito e na raça. Não é assim”, disse.


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