Novo sistema detecta 4,5 mil focos de desmatamento em 6 meses e gera laudo completo para órgãos

95% dos alertas são em áreas não autorizadas; 1419 estão Reservas Legais, 442 caíram em APPs e 51 em nascentes.

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Por Carolina Dantas, G1

Mais de 4,5 mil alertas de desmatamento no território brasileiro foram gerados em seis meses por um sistema de monitoramento inédito. Batizado de “Mapbiomas Alerta”, ele será lançado nesta sexta-feira (7), em Brasília, por um grupo de ONGs que pretende oferecer dados mais precisos para a fiscalização realizada por órgãos federais.

Esses 4.577 alertas compilados pelo Mapbiomas utilizam monitoramentos de satélite já feitos por sistemas públicos e por outras organizações (leia mais abaixo). O sistema cruza diferentes bases de dados e consegue emitir laudos detalhados sobre o território afetado pelo desmatamento.

Nestes seis meses, os alertas identificaram que:

  • 95% estão em áreas não autorizadas para desmatamento
  • 31% (1.419) dos focos estão em áreas de Reserva Legal
  • 55% estão em áreas privadas com Cadastro Ambiental Rural
  • 9,6% (442) estão em Áreas de Proteção Permanente e 1,1% (51) em nascentes

O projeto conseguiu fazer uma análise completa de 80% dos casos – 20% ainda estão sob investigação da equipe. O bioma mais afetado em área é o Cerrado, que teve 47.704 hectares com desmatamento. A Amazônia está em segundo lugar em território, reflexo de uma possível influência da época chuvosa, o que dificultou o monitoramento via satélite.

Cerca de 22% dos municípios apresentaram alertas de desmatamento no primeiro trimestre de 2019, em todos os estados do Brasil. Pará e Mato Grosso lideram com mais notificações. As cidades mais afetadas: Corumbá, no Mato Grosso do Sul, Marcelândia, no Mato Grosso e Balsas, no Maranhão.

Áreas protegidas

Dentre os 4,5 mil focos registrados pelo Mapbiomas Alerta, 312 foram em áreas protegidas – Unidades de Conservação (94) e Áreas de Proteção Ambiental. Foram 4.173 hectares dentro desses territórios, o que representa 5% de todas as notificações.

Áreas protegidas mais afetadas:

  • Área de Proteção Ambiental Rio Preto: 634 hectares
  • Área de Proteção Ambiental do Xingu: 488 hectares
  • Floresta Nacional de Cristópolis: 97 hectares

As terras indígenas tiveram 101 pontos de desmatamento – 700 hectares no total, menos de 1% dos 4,5 mil focos. Os povos mais afetados foram: Munduruku, com 17 alertas; Kayapós, com 16; e Yanomami, com 8.

Vista da BR-163, estrada que liga Santarém, no Pará, a Cuiabá, no Mato Grosso
Vista da BR-163, estrada que liga Santarém, no Pará, a Cuiabá, no Mato Grosso — Foto: Marcelo Brandt/G1

Laudos na mão

O projeto não usa novos dados. Ele cria laudos digitalizados com base nos seguintes sistemas:

  • DETER, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe);
  • Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon);
  • Sistema Integrado de Alertas de Desmatamento (SIPAMSar), do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), vinculado ao Ministério da Defesa;
  • Glad, da Global Forest Watch (GFW)

Mapbiomas é um projeto que existe desde 2015, que monitora o uso da terra no Brasil com a ajuda de imagens de satélite com pixels que representam uma área de 900 m². A base de dados que leva em consideração mais ou menos 20 classes de uso do território – desde a demarcação dos municípios, até os territórios indígenas. A ideia é vai aperfeiçoar os resultados dos laudos para os órgãos de fiscalização.

Tasso Azevedo, coordenador-geral do Mapbiomas, diz que a criação dos alertas com base nos sistemas atuais de forma digital contou com a participação e feedback do Ibama, do ICMBio, Ministério Público Federal, Associação Nacional dos Órgãos Municipais de Meio Ambiente (Anama), entre outros. Eles testaram a ferramenta nos últimos três meses de 2018. Em 2019, o projeto passou a registrar todos os pontos de desmatamento no Brasil.

Como funciona?

O sistema detecta um foco de desmatamento. É feita uma análise com a ajuda das imagens de satélite para descobrir quando de fato o território perdeu a cobertura vegetal. O laudo gera duas imagens: uma do dia anterior à retirada das árvores e outro no dia da detecção. Tasso descreve o mecanismo como “a foto da placa do carro passando no sinal vermelho no dia da multa”.

A partir disso, com a base de dados do Mapbiomas, é possível saber se é uma área de Unidade de Conservação, Terra Indígena, Quilombola, se há um Cadastro Ambiental Rural no local, se é uma Área de Proteção Ambiental (APA), uma Reserva Legal, entre outros graus de refinamento.

Esse documento gerado pelo alerta de forma digital facilita o trabalho dos órgãos porque já traz todas essas informações. Antes, tudo era analisado “na mão” e o fiscal precisaria ir até o local para entender a situação.

No ano passado, os sistemas Deter, SAD e Glad geraram 150 mil alertas – menos de 1% deles geraram laudos completos e ações efetivas. A ideia é resolver esse problema.


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