No princípio do século passado, Alberto Maranhão, então governador do Rio Grande do Norte, inaugurou o que os historiadores chamam de “Era da Modernidade de Natal”. A cidade ganhou iluminação pública, bondes, teatros, escolas, hospital e casa de detenção. De lá para cá, poucos foram os governantes capazes de pensar a cidade para o futuro. Agora, em meio a uma pandemia que deve alterar hábitos pessoais e até as formas como a economia e a sociedade se organizam, é hora de se pensar na cidade do futuro.
Na eleição de 2020, o senador Jean Paul Prates (PT) surge como novidade na disputa pela Prefeitura do Natal. Jean Paul iniciou sua pré-campanha com a promessa de revolucionar a capital do Rio Grande do Norte. O Agora RN procurou o pré-candidato para conhecer as suas propostas para a Natal da terceira década do século 21. Confira:
AGORA RN – Quais as suas propostas para impactar o futuro da cidade?
JEAN PAUL PRATES – Natal precisa se transformar. A cidade que vai chegar em breve a 1 milhão de habitantes precisa se repensar como um espaço de convivência, que permita a todos desfrutarem de tudo que ela pode oferecer.Natal é uma cidade confinada geograficamente. E isso é um problema. 40% da cidade é zona de proteção ambiental. E isso é uma das vantagens estratégicas da cidade. Seus parques, praias, mangues e dunas dão qualidade de vida aos moradores e atraem turistas. É preciso que a gente pense como resolver o problema do confinamento geográfico a partir dessa vantagem estratégica que a natureza nos proporciona. Precisamos refletir se é necessário crescer verticalmente a cidade e em quais níveis. O quanto isso interessa à especulação imobiliária e o que isso pode significar para toda a população e para o futuro da própria cidade. Precisamos também pensar nos serviços que a cidade oferece aos moradores e turistas. Nosso recolhimento de lixo, nosso transporte… E por falar nisso, é preciso reformular nosso sistema de transportes. A população está dependente de um sistema de ônibus que ainda é problemático, mas do qual ainda vamos depender por um bom tempo. Enquanto soluções definitivas não vêm, é possível investir em projetos simples como o aprimoramento de abrigos o melhor uso dos sistemas de GPS nos ônibus, por exemplo. Isso já dá mais conforto e previsibilidade para o passageiro, que pode controlar o trajeto do ônibus e saber quando ele chega e, até, se está cheio ou vazio. Por outro lado, o sistema de trens precisa de investimentos. O VLT transporta apenas 13 mil passageiros por dia. É pouco. Precisamos ampliar esse sistema. Natal é a cidade que escolhi para viver e dedicar minha vida. É uma cidade agradável para o turista e tem que ser também para quem vive nela. Mas, mais do que falar em projetos de infraestrutura como esses, é preciso que a gente pense a forma como se faz a gestão da cidade. Se você olhar para a atual estrutura da prefeitura, vai ver uma administração confusa, com superposição de funções entre as secretarias. É preciso mudar isso… E nós estamos propondo uma reestruturação disso tudo, revolucionando, inclusive, a forma como as decisões do prefeito e de toda a administração são tomadas.
AGORA – Como enxerga a cidade de Natal no futuro?
JPP – A Natal do futuro é a cidade que trata bem o seu morador e que recebe com carinho todos os que vêm de fora. O turista que visita uma vez e que precisa voltar novamente, o migrante que deixou sua cidade natal no interior do Rio Grande do Norte em busca de viver o sonho da capital, as pessoas que escolheram Natal porque perceberam todo o potencial da cidade e a qualidade de vida que podem obter aqui… Natal tem que se transformar cada vez mais numa cidade acolhedora. É essa a sua qualidade que precisamos acentuar. E para que isso aconteça, o poder público tem que investir em serviços de qualidade que permitam a todos desfrutar de nossa capital. Isso quer dizer que precisamos qualificar nossa saúde, educação, segurança, saneamento, e dar a cidade uma infraestrutura que permita que todos possam viver de forma digna. E isso quer dizer que precisamos trabalhar para acabar com essa cidade partida. Não adianta nada ter uma Natal linda e funcional em algumas áreas e em outras não. Natal tem que ser uma cidade integrada e inclusiva sob todos os aspectos.
AGORA – Quais os seus planos para modernizar a cidade e sua administração?
JPP – Vamos reorganizar a forma como a cidade é administrada. O que temos hoje é o caos. Secretarias que respondem por serviços que não deveriam responder, órgãos públicos ineficientes, serviços que não correspondem nem às expectativas da população nem às suas necessidades.
Essa é uma necessidade urgente. Uma prioridade. Trabalhei muitos anos na iniciativa privada, me formei em gestão pública e não consigo entender porque há anos essas formas de gestão não são modificadas. Há uma perpetuação de estruturas, de pessoas e, no entanto, temos projetos que nunca são concluídos. Veja a questão do transporte de que já falamos aqui. As concessões são precárias. A mesma coisa acontece com o recolhimento de lixo, que só agora ensaia uma licitação. O Plano Diretor é outro exemplo. Ficaram anos sem resolver a questão e agora querem votar de toda forma como a cidade deve se organizar às portas de uma eleição e no meio de uma pandemia onde as pessoas não podem sequer se manifestar a respeito.
AGORA – E a pandemia? Como isso vai afetar a cidade?
JPP – A pandemia é algo terrível e que vai afetar toda uma geração de forma marcante. Minha mãe viveu os horrores da guerra na França nos anos 1940. Acho que as pessoas devem ter a sensação semelhante à que tiveram as pessoas na Europa quando a guerra foi encerrada. Vão perceber que tivemos muitas vidas perdidas de forma estúpida. E teremos perdas próximas como amigos e parentes. Se reerguer após uma tragédia como essa não vai ser fácil. Vamos perder empregos, vamos ter queda de arrecadação e o poder público vai ter que ser bastante criativo para prover toda a população de serviços de qualidade em áreas que são estratégicas, como saúde, segurança e educação. Neste fim de semana, vamos alcançar a marca terrível de mais de cem mil mortes em todo o país. São carreiras encerradas, amores que se foram, crianças e jovens que tiveram sua vida interrompida cedo demais. Isso vai afetar a economia e o psicológico das pessoas. E é bom lembrar que as eleições acontecem em meio a tudo isso. Os candidatos têm a obrigação de apresentar propostas claras para superar esse trauma.
AGORA – Como recuperar a economia de Natal após esse processo?
JPP – Vamos ter que buscar estratégias que permitam à economia se recuperar rapidamente. No caso de Natal, o turismo é uma das alternativas. É preciso incentivar esse setor e trazer os turistas de volta à cidade. Vamos ter que trabalhar Natal para receber ainda melhor esses visitantes. E, para isso, vamos ter que preparar o comércio, os restaurantes, o pessoal que faz o receptivo. A economia da cidade vai precisar de estímulos. Eles podem vir de incentivos fiscais ou da reformulação de regras de funcionamento, por exemplo. Vamos viver um novo normal. Porque não flexibilizar a instalação de mesas em calçadas, por exemplo? É mais saudável e pode representar um atrativo para consumidores poderem desfrutar um pouco mais da beleza e do ar saudável de nossa cidade. O que há de certeza é que a prefeitura vai ter que ser parceira dos empreendedores de Natal nesse processo de reaquecimento econômico. A idéia é que o poder público ajude essas empresas a permanecerem abertas e voltarem a crescer e não empurre elas para o abismo com exigências absurdas.
AGORA – Como incluir nesse processo parcelas menos favorecidas da população que sempre ficam à margem de projetos?
JPP – Integração e inclusão devem ser bandeiras da Prefeitura do Natal. Precisamos integrar espaços urbanos diversos e incluir as populações no processo econômico e social. Não podemos permitir que algumas áreas da cidade tenham que se contentar com o resto do resto do orçamento da prefeitura. Saúde, educação, transporte, saneamento e segurança de qualidade devem ser prioridades para todos, quer morem na zona norte ou nas áreas mais valorizadas da cidade. Vivemos hoje um crescimento no número dos moradores de rua, por exemplo. Esse é um dos efeitos de uma política econômica perversa implementada pela dupla Bolsonaro/Paulo Guedes. Como tratar esse problema? A primeira alternativa é voltar ao início de nossa entrevista e lembrar que Natal deve ser uma cidade acolhedora. E ela deve acolher essas pessoas, criando abrigos e oferecendo refeições dignas e a oportunidade de uma ocupação. Porque não exigir das empresas terceirizadas pela prefeitura que treinem e empreguem parte dessas pessoas? Seria um alternativa para reduzir essa miséria e oferecer a essas pessoas a oportunidade de retomarem suas vidas.
Casado, e com filhos, Jean Paul vive em Natal há quinze anos
Jean Paul Prates nasceu no Rio de Janeiro. É filho de um gaúcho, que militava ao lado de Leonel Brizola, e de uma francesa, que fugiu a pé da França durante a Segunda Guerra Mundial. Do pai, herdou o gosto pela política, e da mãe, a certeza de que deveria escolher para viver o local onde se sentisse acolhido e feliz.
Geminiano, torcedor do Botafogo e do Alecrim, Jean é advogado, economista e ambientalista.
Estudou na Uerj e na PUC-RJ e fez mestrados em Planejamento Energético e Gestão Ambiental pela Universidade da Pennsylvania e em Economia de Petróleo e Motores pelo Instituto Francês de Petróleo.
No final da década de 1980, integrou a consultoria jurídica da Petrobras Internacional (Braspetro) e, em 1991, fundou a primeira consultoria brasileira especializada na área de petróleo e energia. Jean Paul participou da elaboração da “Lei do Petróleo” e do Decreto dos Royalties, que determinou e regulamentou a distribuição de recursos da área de petróleo para estados e municípios brasileiros.
Na política
Em 2001, ele elaborou um plano de planejamento energético para o Rio Grande do Norte que terminou sendo implementado em 2003 pela então governadora Wilma de Faria. Em 2005, Jean Paul transferiu duas de suas três empresas para o Rio Grande do Norte e assumiu a Secretaria de Estado de Energia. Em 3 anos, o Estado chegou à autossuficiência energética graças a um agressivo processo de investimentos na área de geração de energia eólica. Empresas de todo o mundo asseguraram ao longo dos últimos anos mais de 15 bilhões de reais em investimentos no Estado, que geraram cerca de 15 mil empregos no setor.
A convite de Fernando Mineiro e de Fátima Bezerra, Jean Paul entrou para o PT e, em 2014, concorreu ao Senado como suplente na vaga de Fátima Bezerra. Com a eleição da governadora, Jean Paul assumiu o mandato no Senado em 2019, onde tem se destacado na defesa de causas sociais e com projetos nas áreas de educação e economia.
No último dia 1º de agosto, foi escolhido pré-candidato a prefeitura de Natal pelo PT. Alexandre Motta, que tinha colocado seu nome para a disputa, manifestou o seu apoio ao nome de Jean Paul que agora busca consolidar o seu nome como um dos fortes opositores à candidatura à reeleição do atual prefeito, Álvaro Dias.
Em Natal
Casado, e com filhos, Jean Paul Prates vive em Natal desde 2005. A mulher dele, Muriele, é de Caicó e os dois viviam no eixo Natal-Brasília desde o início de 2019, quando Jean Paul assumiu o mandato de senador no lugar de Fátima Bezerra. Com o início da pandemia da Covid-19, Jean Paul montou sua base num escritório em sua casa, e de lá participa das reuniões virtuais do Senado e de compromissos em todo o País pela internet.
Nos últimos dias, ele tem liderado, via internet, uma campanha para evitar que a Petrobras se desfaça de seu patrimônio que inclui refinarias como a Refinaria Potiguar Clara Camarão.
Pré-candidato
Desde que foi lançado pré-candidato a prefeito de Natal pelo PT, Jean Paul tem aumentado os contatos políticos com lideranças de toda a cidade. No partido, ele garante já ter se consolidado junto à militância e agora trabalha com a sigla em busca de alianças com outras legendas da capital. Se conseguir se consolidar como liderança de uma ampla frente de esquerda, Jean Paul larga na frente com espaço privilegiado no horário eleitoral gratuito.